Pedro Soares dos Santos: “Portugal podia ser a Califórnia da Europa”

Pedro Soares dos Santos, presidente do Grupo Jerónimo Martins, deixa a sua visão para o país em 2043.

Para um grupo como o JM e para o Pedro, que tem de estar focado a apresentar resultados, sente que há pouca gente a pensar, neste momento, o país a 20 anos?
PSS — Não há ninguém. Basta ver alguns debates políticos e alguns programas e percebe-se que ninguém está preocupado com o futuro. Só estão preocupados com as próximas eleições e isso é desastroso para todos.
A desilusão em relação à atual classe líder política em Portugal é muito grande. Ninguém está a pensar como é que Portugal se deve posicionar numa União Europeia que todos sabemos que ainda vai aumentar mais. Ninguém quer saber que papel queremos desempenhar em termos económicos na atual União Europeia e na futura. Era para aí que devia estar canalizado o nosso pensamento.
Nos poucos debates a que assisti, ninguém fala de Portugal na União Europeia. Só se fala de Portugal para os fundos. Para se ter fundos tem de se ter projetos; para se ter projetos tem de se ter ideias; e para se ter ideias tem de se ter gente muito boa na liderança. Essa lacuna existe em Portugal e é perigosíssima!
Não é em vão que os jovens deixam Portugal. É porque não sentem que isto exista. Tenho muita pena porque Portugal é um país maravilhoso e podia ser a Califórnia da Europa.

— Apesar de todas estas dificuldades, qual é a sua visão ou como é que gostaria que o país fosse em 2043?
PSS — Gostava que tivéssemos uma classe que está reformada a viver bem. Gostava muito que tivéssemos uma cultura de bem-estar. Portugal aumentar para um turismo mais rico, porque temos um clima espetacular para isso.
Gostava que tivéssemos uma agricultura muito desenvolvida para abastecer todo o norte da Europa, de uma forma diferente daquela que temos hoje.
Gostava que as pessoas acreditassem mais nelas.


— E sobre o estigma que parece haver em relação às grandes empresas em Portugal? Gostaria que algo mudasse nesse sentido?
PSS — Acho que tudo devia mudar porque quando não se cria riqueza, não se partilha.
Nós hoje estamos debaixo de um discurso contra a criação de riqueza. Não percebo se esta gente quer que sejamos a Cuba da Europa.
Neste momento, só se fala em impostos, mas os impostos têm de ser cobrados pela riqueza que se produz, não é por aquilo que as pessoas têm. Não consigo perceber o que é que esta gente entende que é tirar aos outros a riqueza que os outros produzem e que partilham. E esse é que é o problema de Portugal.
Neste momento, nós temos um discurso de uma classe que não gosta de trabalhar. Viveu toda a vida à conta dos orçamentos de Estado e só pensa em distribuir esmolas. Não pensa em como criar esta riqueza. Isso a mim preocupa-me imenso.