Emília Vieira: “Quem se reformar em 20 anos vai ter muito menos”

Emília Vieira, CEO da Casa de Investimentos, deixa a sua visão para o país daqui a 20 anos.

Qual é a sua visão para o país a 20 anos?
EV – Temos, de facto, cada vez mais as pessoas com melhor formação, mas estamos a pagar a formação para elas saírem de Portugal. Estamos a ver um país que, em termos da demografia, está numa situação muito difícil de inverter.
Não há políticas de longo prazo, os nossos políticos não conseguem pensar a 10 anos e deviam poder pensar a 50.
Estão a pensar no trabalho deles, se vão ter emprego, se têm emprego para os rapazes todos do partido e não estão preocupados em olhar a longo prazo.
Se daqui a 20 anos as pessoas, como está previsto, se reformarem com 43% do último salário, estamos a dizer às pessoas: “olhe, se ficar cá e trabalhar cá vai continuar a ser pobre”.
É difícil poupar com os salários que temos, sobretudo com os impostos sobre o trabalho. E, de facto, há aqui uma mentalidade de criar subsídios e pobres.
Trata-se as pessoas com muito pouca dignidade. Quando parece que é dar esmolas que se vai resolver, não vai resolver coisa nenhuma; só vai criar dependência e nós só podemos dar aquilo que distribuímos. Se alguém der demais, porque andam a prometer tudo nas campanhas, depois claro que alguém vai ter de tirar e esse é que vai ficar com o ónus.
Olho para o país com bastante apreensão, sobretudo porque temos uma classe política que não pensa a longo prazo e é importante que a classe política e que os empresários criem estratégias e visões de longo prazo.
É importante reter as pessoas boas! Não se faz coisas boas com pessoas más. Nós temos de ter os melhores.
Como é que se chumba a proposta de educação financeira? Isto é desistir, isto é querer ter gente miserável, isto é patrocinar o que é mau. Tenho muita pena.
Temos iliteracia em muitas áreas, na saúde, na política e em tudo. Senão, com certeza que teríamos outro tipo de governantes e para isto é preciso ser exigente. Nós temos de ensinar as pessoas porque assim as pessoas são mais exigentes.
É preciso motivar quem é bom. Temos gente com imensa qualidade. Quando vão estudar para fora, há muitas histórias de gente com grande qualidade e que se destaca fora. Porque não nos destacamos cá? Porque precisamos das pessoas certas, precisamos de empresários, de empresas que privilegiem o conhecimento e esta grande capacidade de muitos jovens que saem das universidades.
Nós temos dois por cento dos nossos clientes do fundo que estão pelo mundo e são muitos destes jovens. Quando há alguma interação com eles, vemos que têm salários muito superiores aos que estão cá. Não acreditam no país e era importante que acreditassem porque senão isto não é para novos, nem para velhos.
Um dia não está cá ninguém para pagar a reforma a quem fica. E era bom que houvesse alguma simpatia entre gerações.
Hoje é a geração mais velha que devia ser simpática com quem está a pagar reformas e não com os políticos que andam aí a tentar distribuir miséria. Devia ser com estes que estão hoje a pagar, porque estão a pagar muito e vão ter muito menos do que têm.
Quem se reformar em Portugal daqui a 20 anos vai ter muito menos e hoje está a pagar para isso.