Eduardo Ramos: “Vamos passar este nível de crescimento baixo”

Eduardo Ramos, CEO da VIa Verde, deixa a sua visão para o país daqui a 20 anos.

Como é que imagina o país em 2043, quando estiver a celebrar 900 anos?
Eduardo Ramos –Nós temos aqui um tema de ambição e de crescimento enquanto nação. Não podemos pensar nisto só no contexto nacional, mas no contexto europeu e olhando até para choques e estímulos internacionais. Acho que vamos conseguir passar este nível de crescimento quase nulo ou bastante baixo.

Há mais dois temas que temos de endereçar: quantidade e qualidade. Quantidade, porque se continuarmos como estamos a nossa população vai diminuir bastante. Os níveis de natalidade são muito baixos. Precisamos de incentivar níveis de natalidade e de ter políticas de imigração.

E, depois, qualidade. A qualidade tem muito que ver com a nossa produtividade. Tem de ser uma qualidade mais transversal e isto só se faz com um trabalho bastante apurado ao nível do sistema de ensino. As nossas elites, as pessoas que têm condições, que têm oportunidades de estudar, são das melhores do mundo. Mas, infelizmente, existe uma camada muito significativa da nossa população que não tem essas oportunidades.

Nós temos de conseguir fazer isso enquanto nação; caso contrário, a qualidade média mais baixa ligada à pouca quantidade levará, certamente, a níveis de produtividade mais reduzidos e a níveis salariais que, infelizmente, são aqueles que acabamos por ter em Portugal.

Apesar disto, temos uma posição geográfica única, temos condições enquanto país que dificilmente vemos noutros cantos do mundo e podemos continuar a ser, como somos, uma referência do ponto de vista ambiental.

Devemos continuar a tocar essa tecla de transição energética e a fazer bem o nosso trabalho, porque quem tiver esse fator de atratividade no futuro vai conseguir fazer a diferença também na atração dos melhores. Obviamente, as pessoas saem porque não há crescimento, não há ambição, não há projeto de crescimento.

O nosso país é lindíssimo e, portanto, dificilmente vai perder turismo em quantidade. Temos é de subir a qualidade desse mesmo turismo e trabalhar por uma economia mais produtiva. Não podemos deixar que a quantidade baixe e temos de melhorar a qualidade do que temos, transversalmente, porque as elites continuam a ser das melhores que temos.

Deveria haver uma espécie de via verde para termos melhores políticos e melhor liderança em Portugal?
ER – Sobre melhores políticos, não me pronuncio. Melhores lideranças, sim. Enquanto país precisamos também de trabalhar esse tema de liderança. Há um tema de que gosto muito que é a liderança distribuída. Como é que nós, enquanto organizações, podemos incentivar que novos e novas llíderes surjam e se desenvolvam?

A resposta leva a melhor assunção de risco, melhor capacidade de gestão de mudança e a mais capacidade de geração de riqueza. No final do dia vai dar tudo aí. Temos de gerar riqueza e depois ter o cuidado de a distribuir de forma a que as desigualdades sociais sejam as mínimas possíveis.

O modelo de liderança que está a referir é para as organizações em geral?
ER – Para Portugal e para a Europa. A Europa tem um desafio difícil: é que a Europa não cresce, ou cresce pouco. Se formos ver as desigualdades, estamos a falar de países às vezes com níveis de igualdade muito grandes, mas depois o nível médio não sobe e, portanto, também não cresce.
Temos de continuar a lutar para essa ambição, porque, sem essa luz de ambição, andamos aqui a gerir a semana para chegar à sexta-feira. Tem de ser um projeto, um propósito, um desígnio que tem de estar nas lideranças distribuídas.