Ricardo Alves: “Temos de olhar mais para a indústria portuguesa”

Ricardo Alves, CEO da Riberalves, deixa a sua visão para o país daqui a 20 anos.

Como é que imagina o país em 2043, quando Portugal fizer 900 anos, se considerarmos o Tratado de Zamora?
RA – Portugal tem todas as condições para ser um grande país. Viajo com alguma frequência e, realmente, comida como a nossa, tempo como o nosso, pessoas simpáticas como nós temos em Portugal, não é fácil encontrar no mundo. Estamos a fazer um bom trabalho ao nível do turismo, mas não chega.
Quantas vezes se falou de indústria na campanha eleitoral? Não me recordo de ter ouvido alguém falar em termos de indústria. Temos de olhar mais para a indústria portuguesa. Temos de alterar um pouco a cultura de que os industriais são os maus da fita. Não é a realidade. A grande maioria investe ou reinveste os seus lucros na indústria, nas pessoas.
Uma empresa como a Riberalves, sendo considerada uma grande empresa em Portugal e na Europa, não recebe qualquer apoio comunitário nesta altura da sua vida.
Somos grandes? Sim, felizmente. Já fomos uma empresa pequena. Mas também transportamos muito o nome de Portugal para o estrangeiro. Existe muito pouco apoio nos países onde nós estamos. Sendo nós os principais exportadores para o Brasil, a par da Galp e de mais uma ou duas empresas, nunca nenhuma entidade oficial nos veio perguntar como é que está o negócio e o que é que necessitam.
Faz falta uma maior comunicação, uma maior proximidade entre as entidades, porque estamos a transportar o nome de Portugal.

– Essa é também uma mensagem de maior aposta na chamada diplomacia económica e na imagem do país?
RA – Sim, sem dúvida. Portugal tem um potencial muito grande e temos de promover mais Portugal no estrangeiro. São empresas como a nossa e outras que fazem com que o nome de Portugal apareça no mundo.
Tem de haver uma maior distribuição dos rendimentos e temos de tentar reter talento em Portugal. Os salários são baixos em Portugal, a produtividade é baixa. Quando se fala em produtividade não quer dizer que as pessoas trabalham pouco. Cada hora trabalhada produz poucos euros. Não há muitos produtos de valor agregado produzidos em Portugal e este é que é o grande desafio.
Temos de criar produtos e desenvolver indústrias para fazer crescer a economia portuguesa. O português é trabalhador, não tenho dúvidas disso. Faltam é mais produtos, tecnologia, e esse é que é o caminho. Investiria muito dinheiro ou tempo, se fosse o Governo, a tentar perceber essa dinâmica. E, obviamente, a melhorar infraestruturas.
Gerir uma empresa não é a mesma coisa que gerir um governo ou gerir um país, mas devia haver mais experiência transportada da indústria ou de gerir uma empresa para gerir um governo, obviamente com todas as suas diferenças.
Era fundamental uma reforma a vários níveis: de educação, de justiça, questões fiscais. Ninguém tem a coragem de ceder e dizer “vamo-nos juntar e criar aqui um plano de ação para os próximos 4-5 anos e colocá-lo em prática”. Fico triste porque, acima de tudo, temos de defender Portugal.
Temos de apostar muito na meritocracia. Implementámos o nosso sistema de avaliação há cerca de quatro anos. Foi uma alteração muito importante porque as pessoas percebem qual é o nosso objetivo, onde é que têm de chegar e esforçam-se para atingir esse objetivo. A meritocracia devia estar completamente generalizada no aparelho do Estado.
Devíamos tentar copiar o que os outros países com a nossa dimensão fizeram bem. A Holanda tem pouco mais tem de 14 milhões de pessoas e é um país muito rico. O que é que eles fizeram bem?
Devia juntar-se quem manda neste país e traçar um plano estratégico para os próximos 4 ou 5 anos.

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