Na rubrica “Portugal 2043”, o desafio é imaginar o país dentro de 20 anos, não apenas como presidente desta fundação, mas também como cidadã. O que gostaria que acontecesse para termos um país bem melhor, quando celebrarmos 900 anos como Estado-nação mais antigo da Europa, com fronteiras definidas?
AP — Gosto muito de abertura e acho que nós devíamos estar ainda mais abertos.
Gostaria de ver o país, mantendo as suas características culturais (que são interessantíssimas e fundamentais para aquilo que somos), mais aberto, tanto na ida de portugueses para fora como na vinda de estrangeiros para Portugal. Mais aberto à diferença, a saber aceitar as coisas e a conviver com a diferença, porque todos ganhamos e evoluímos mais com isso.
Definitivamente, gostaria que fôssemos um país com maior crescimento económico e com salários mais altos. Seria fundamental para nós, na área económica, conseguirmos evoluir. Temos outros países que conseguiram fazê-lo, que estavam há alguns anos como nós e que hoje estão (por exemplo, a Irlanda) muito acima de Portugal.
Gostaria muito que isso acontecesse, que as pessoas pudessem viver melhor, e que houvesse um desenvolvimento mais harmonioso do território, com o interior a ser cada vez mais povoado, em vez de ficar mais deserto. Isso implica que haja visão de longo prazo no desenvolvimento de infraestruturas e na capacitação de territórios. Julgo que isso é fundamental para a nossa posição daqui a 20 anos.
Gostava que fôssemos e vivêssemos todos mais felizes. Ainda na área económica, temos de pensar nos setores em que temos vantagens competitivas. Vou dar o exemplo do setor do turismo, fundamental, na minha opinião, para o desenvolvimento do país. Temos condições únicas em muitas coisas para que esse seja um setor importante e, por isso temos de, evidentemente, ter cuidado com a vida das cidades e das populações.
Temos de deixar que esse setor possa continuar a desenvolver-se. É um setor específico ao qual Serralves está ligada, não sendo o único. É um setor que tem futuro e que poderá continuar a trazer riqueza ao país.
É evidente que temos de continuar a desenvolver as nossas instituições de ensino, as nossas universidades, e também a investir em cultura porque o dinheiro que o Estado dá à cultura não é um gasto, é um investimento.
Nós não dizemos os gastos na educação, mas dizemos o gasto na cultura. O subsídio à cultura não é subsídio nenhum; é um investimento porque ela é fundamental para o desenvolvimento das pessoas, para a criação de cidadãos responsáveis e mais informados no futuro, mais abertos à diferença e à criatividade. Espero que esse investimento aconteça também.
Ana Pinho: “Portugal deveria estar ainda mais aberto”
Ana Pinho, presidente da Fundação Serralves, deixa a sua visão para Portugal daqui a 20 anos.