Dentro de 20 anos, o povo português estará a celebrar 900 anos de Portugal como Estado-nação mais antigo da Europa com fronteiras definidas. Como empresário e cidadão, como gostaria que o país estivesse em 2043?
MT — Vejo com muita preocupação. Estes últimos exemplos políticos que temos vivido mostram falta de dignidade para com o país. Independentemente das razões, o que é facto é que a imagem de Portugal fica denegrida. Afeta-nos a imagem das exportações, mas afeta, sobretudo, o nosso futuro, dos nossos filhos e dos nossos netos.
Tal como para sermos médicos, temos de estudar Medicina, e para sermos economistas Economia, era natural que os políticos tivessem de ter algum código de honra e de preparação académica para exercerem os lugares que ocupam. Muitos deles não estão preparados e gerem estruturas que precisam de ter indicadores e indicações corretas para serem devidamente conduzidas. E não o fazem, não têm preparação.
O meu receio para 2043 é que possamos estar ainda pior, se é possível, do que aquilo que estamos hoje. É necessário termos rigor, respeito pelo próximo e dignidade para connosco próprios, para conseguirmos levar o país para um patamar diferente.
— Quanto à competitividade do país, o que seria necessário alterar na fiscalidade, em especial no setor alimentar?
MT — Temos as mais altas taxas fiscais da Europa. Na alimentação, temos uma coisa que é chocante que é não ter ainda havido nenhum governo (e não é só o PS porque já esteve o PSD e também nada fez) que mexesse nisto: os produtos transformados pagam 23% de IVA. Não é possível! Um produto de alimentação não é um bem de luxo.
Se nós compramos sapatos, calças ou um fato e pagarmos 23%, sim… A comida não. Temos de comer todos os dias e não podemos pagar 23% na comida. Se comermos um cherne (se falarmos só da minha área), que paga 6% e é caro, depois vamos comer um pastel de bacalhau e pagamos 23%, que está dedicado a uma classe que não pode comprar o cherne. Isto não é justo. O bife do lombo tem 6% e a salsicha tem 23%. Onde é que vivemos? Isto não pode ser uma brincadeira; isto tem de ser uma coisa séria.
O IVA da restauração, em Portugal, é 13% e está alinhado com a Comunidade Europeia. Nos bens transformados, Portugal tem 23% e a média europeia é de um terço.
Portugal paga o IVA dos produtos transformados três vezes superior aos outros, mas os outros países têm income maior do que nós. Não é sensato que isto continue assim. Há muitos portugueses que chegam aos dias vinte e poucos de cada mês e não têm comida em casa. Esta é a realidade!
E o que, muitas vezes, comem são os produtos que são taxados a 23%. Não é justo, mais ainda quando vamos à restauração, que são os que têm mais poder aquisitivo, e pagamos 13% de IVA.
Quando vamos comprar um produto para levar para casa, porque é o mais barato (a pizza ou o pastel de bacalhau), todos os produtos transformados pagam 23%. Ou seja, aqueles que não conseguem ir ao restaurante têm o IVA a 23%, mas os que conseguem têm a 13%. E depois temos o cherne e os bifes a 6%…
— Portanto, há um caminho a percorrer, nos próximos largos anos, na área da justiça fiscal?
MT — É uma questão de bom senso. Este assunto é uma questão de bom senso. É copiar o que existe na Europa. Estes produtos não podem estar na taxa média; têm de passar para a taxa mínima.
Que essa taxa mínima seja 6% ou 7%, perfeito. Torna muito mais fácil a vida para todos e repõe-se a justiça fiscal na alimentação que, neste momento, não existe.