Fortunato Frederico: “Gostaria que o Estado não levasse tanto dinheiro. Aumentamos o salário 100 euros e os trabalhadores levam 30”

Fortunato Frederico, presidente do Grupo Kyaia, deixa a sua visão para o país daqui a 20 anos.

Qual é a sua visão para o país daqui a 20 anos?
FF – Que os trabalhadores fossem compensados e que o Estado não levasse tanto dinheiro. Hoje a nossa dificuldade é termos trabalhadores dispostos a trabalhar totalmente.
A sociedade está toda desestruturada. A vida tem de ser mais consistente, tem de ser baseada em princípios. O passado não pode ser pura e simplesmente esquecido e acho que hoje toda a gente tem pressa em esquecer o passado.

– A fiscalidade é, enquanto empresário, aquilo que mais o preocupa?
FF – Os impostos são um entrave. Se fossem bem gastos eram uma maravilha, mas são mal gastos.
Agora com estas novas tecnologias, a sustentação da sociedade, nos modos em que a temos é um problema grave. Hoje existem tecnologias modernas, mas quem é que vai comprar estas tecnologias? São aqueles mais desonestos que têm dinheiro para as comprar. A distância vai aumentar em relação à sociedade civil, àqueles que trabalham, porque são tecnologias caríssimas que não estão ao alcance de toda a gente.

– Enquanto empresa do setor privado, que foi superando várias adversidades, quais é que acha que devem ser os desafios do Estado?
FF – Acima de tudo, reformular a formação da juventude. A juventude não pode ser formada como está a ser formada, tem de começar nos bancos do infantário. Não podemos pensar que é depois de serem doutores que os vamos educar. Isto é uma mudança estrutural da própria sociedade.
Há muito tempo que digo que é preciso trabalhar menos horas. Devia-se até trabalhar só 4 horas por dia, mas não era para depois ninguém fazer nada. Qual é o problema da sociedade, hoje?
É não ter o acompanhamento dos mais velhos na formação dos mais novos. Se houvesse este horário de 4 horas por dia, a mulher e o homem podiam trabalhar de manhã na empresa e de tarde iam para casa tratar dos pais, dos filhos e dos sogros.
Teríamos uma sociedade muito mais bem formada, mais equilibrada, fechar-se-iam centenas de prisões, dispensar-se-iam centenas de guardas prisionais e ainda arranjaria outras ocupações. Tinhamos uma sociedade muito mais humana e fraterna.
Hoje toda a gente diz que quer tratar dos pais, mas não tem condições, trabalham 8 horas. Portanto, se trabalhassem 4 horas por dia, um de manhã, em casa, a olhar pelos pais, pelos sogros, pelos filhos; da parte de tarde, caberia ao outro. Tínhamos sempre uma cabeça de casal em casa, a olhar pela vida do lar, do afeto, do carinho, da responsabilidade.
Não precisávamos de produzir mais. Nós precisávamos de produzir com valor acrescentado. Não é produtividade, mas valorização do produto. Fala-se muito em produtividade, é um termo dos economistas, mas cheira a escravatura.
Não é produzir, é valorizar. Valorizar é com pensamento, com lentidão, com menos consumo.
Fazer um sapato à mão é muito mais bonito e muito mais prático para a formação humana do que fazê-lo à máquina.
A educação e a arte são educadas. Por que é que os antigos pintores pintavam tudo com tintas e as obras ainda hoje são bonitas? Hoje, qualquer indivíduo pinta um quadro.
É esta disfunção entre a realidade e o “flash” que faz a desgraça do mundo.

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