Qual a sua visão para o país como cidadão, não apenas como empresário?
JLS ─ Porque já cá estou há muitos anos, percebo uma coisa. Embora digam que a Europa está velha e essas coisas todas, as grandes invenções e as grandes inovações saem da Europa e não do resto do mundo.
A verdade é que estamos em muito melhores condições do que estávamos há 20 anos. Temos vindo para a frente. Mas temos demasiado foco em distribuir riqueza e a ausência de foco dos políticos e da administração em criar riqueza.
Há um mundo de gente a retirar energias… Temos aqui dezenas de pessoas a produzir todos os dias informação para dar ao Estado. Quer dizer, depois do lado de lá também têm dezenas ou centenas de pessoas para a gerir e isso não cria valor nenhum. Só retira valor e competitividade das empresas. E isso preocupa-me muito, muitíssimo, porque Portugal tem de se libertar dessas tarefas, com ajuda digital. Não estou a dizer que não tenhamos de ter impostos, administração e governo. Temos de ter e temos de pagar…
─ Mas há um peso excessivo do Estado, da carga fiscal e da burocracia?
JLS ─ Sim. E desnecessário. Imensas coisas são absolutamente desnecessárias. Este foco é um foco que alguns acham necessário porque nunca viveram a necessidade de criar soluções senão morriam; a empresa desapareceria, se não criassem soluções que permitissem evoluir para uma dimensão diferente.
O que me parece é que existem muito melhores condições hoje do que havia há 20 anos, sendo verdade que não temos desemprego, que é uma felicidade porque o desemprego é marginal, mas reconheçamos que há imenso para fazer na produtividade das pessoas.
Vejamos isto: entramos nas cidades todos ao mesmo tempo e são milhares, milhões de horas que se perdem todos os dias, desperdiçadas. Podiam ajustar para que as pessoas entrassem mais linearmente nas cidades e saíssem. E os camiões param milhões de horas à espera para carregar ou para descarregar ou em filas de trânsito. E são improdutividades absolutamente dispensáveis no país.
Outro exemplo: a quantidade de água que se perde, tanta falta faz em muitos sítios, porque as canalizações estão velhas e não tiveram manutenção. Estão preocupados que as pessoas gastam água porque perdem a água nas canalizações…
Há imensas oportunidades de aumentar a produtividade e temos de pôr o país a produzir acima da Europa, com um PIB acima da Europa, criando competitividade e flexibilidade para trabalhar no mundo.
Creio que isto é possível fazer. Há aí mais gente a pensar e a falar alto sobre isto. Estou absolutamente vinculado à ideia de que é possível crescer um ou dois pontos acima da Europa. E isso seria suficiente para nos tornarmos um país relevante nos próximos 20 anos e comemorarmos os 900 anos com distinção. Já não digo ser o maior da Europa, mas ser um dos cinco principais.
– A questão é que já não se vê muitas pessoas a pensar o país a 20 anos…
JLS ─ Esse é o problema dos incompetentes. Desculpe lá eu dizer isto de forma tão agressiva. Os incompetentes, as pessoas que não têm talento, não deixam que os que têm talento vão assumir responsabilidades. E os que têm talento não estão dispostos a ser enxovalhados pelos demais que não sabem fazer as coisas.
Razão pela qual muitos vão para a Europa, vão para o mundo trabalhar e não ficam aqui. Em Barcelona, encontrei há dias, como orador numa palestra, um português daqueles que estão no topo de uma grande companhia que vende 17 mil milhões de euros em aromas para alimentos. Será que vai voltar?