António C. Rodrigues: “Ter um papel dentro da Europa com mais futuro”

António Carlos Rodrigues, CEO do Grupo Casais, deixa a sua visão para o país daqui a 20 anos.

O propósito deste projeto é pensar o país a 20 anos. Como é que, como empresário e gestor, mas também como cidadão, imagina que esteja Portugal dentro de 20 anos?
ACR — Acho que Portugal tem uma capacidade de singrar.
A saída da Inglaterra da União Europeia despertou algumas luzes sobre o que é que tem de ser a Europa; estes conflitos e estes problemas energéticos, vieram reforçar mais a visão de que a Europa tem de trabalhar como uma única entidade. Nesse contexto, Portugal tem muito mais para dar e fazer muito mais.
A Europa pretende ser mais industrializada e acho que só Portugal e Espanha é que têm estas condições. Nós temos energia mais barata porque conseguimos ter renováveis que os nossos vizinhos nórdicos não conseguem ter; temos mais horas de sol, e, por isso, maior capacidade de produção fotovoltaica; temos uma costa que nos permite também o eólico, portanto, energia.
Temos também o efeito de uma integração cultural com os países lusófonos e os espanhóis com o mundo hispânico. São pessoas de cultura mais similar do que acontece, por exemplo, com os turcos na Alemanha ou com os argelinos em França. Precisamos de demografia e, para isso, precisamos de importar pessoas. Os números da Segurança Social nunca estiveram tão bons. Hoje, podemos usufruir ou esperar ter quem pague as nossas reformas. Nunca tivemos tantas pessoas no ativo como temos hoje, apesar de a nossa natalidade e demografia natural estarem a decrescer.
Sse juntarmos só estes fatores conseguimos ter aqui uma visão e um papel dentro da Europa com muito mais futuro. O que é que nós necessitamos? De algumas infraestruturas, por exemplo, a ferrovia é essencial. Não podemos aspirar a ter um papel na indústria, se não tivermos uma capacidade de receber e escoar matéria-prima a um custo mais sustentável. O transporte rodoviário não é sustentável quando comparado com o ferroviário, em termos de escala de entrada e de penetração dos nossos produtos e das nossas fábricas no interior da Europa.
Precisamos também de uma infraestrutura aeroportuária porque somos um país periférico, onde só os nossos vizinhos espanhóis é que vêm de carro e tudo o resto vem de avião. Se não tivermos uma porta de entrada e saída também não podemos esperar que haja uma fluidez para tirar partido destes fatores económicos.
O que eu visiono é, no fundo, que haja aqui, independentemente de todos estes episódios, um maior pacto de regime e uma maior consciência das nossas várias fações políticas em relação àquilo que não são projetos de um mero mandato, mas sim de décadas e que precisam de ser decididos e implementados. Alguém vai ter de transportar essa tocha da implementação, independentemente de poder não ser o mesmo partido ou a mesma fação que lhe deu início na origem.
Temos de ter aqui esta visão, o país merece, a nossa população merece. Temos 2 milhões de pessoas expatriadas e, quando falo com qualquer expatriado, todos eles têm vontade de voltar ao seu país, mas não encontram desafios à altura daquilo que eles próprios também aprenderam e que se capacitaram lá fora. Por isso, é nosso dever criar essas oportunidades e temos todas as condições para criar essas oportunidades.
Precisamos desse pacto de regime para conseguir fazer essas infraestruturas e tirar proveito dos fatores naturais, que já os temos, num conjunto de coisas que só nos cabe a nós deliberar e não a terceiros.