Olhando para o futuro daqui a 20 anos, como é que o João imagina, para já, este negócio ?
JC — É difícil fazer projeções a 20 anos, ou a 100 anos. O nosso plano para os próximos três anos é duplicar o volume de negócios. Estamos nos 100 milhões e o objetivo é passarmos para os 200 milhões em 2026. É essa a nossa visão para os próximos três anos, mas queremos continuar a crescer numa linha orientadora baseada num ecossistema. Isto é, somos a Critical Software, mas somos uma joint-venture com clientes, somos um fundo, somos startups, somos spin-offs, e ter consciência, com base nesse ecossistema, que vamos conseguir crescer de uma forma muito mais rápida e mais sustentável.
Daqui a 20 anos tenho a visão de um ecossistema saudável, com a Critical Software no centro a crescer sustentável, lucrativa, e a ter um impacto no mundo positivo tal como acredito que tivemos até agora.
— E olhando para o país? A pergunta é mais como cidadão…
JC — Como cidadão, acho que o país tem muitas coisas boas, mas tem problemas ao nível da economia, da geração de riqueza, todos sabemos dos problemas de produtividade. Penso que esses problemas só se resolvem com empresas, com iniciativa privada e com empreendedores. Se queremos fazer crescer economia, se queremos aumentar a produtividade, precisamos de empreendedores.
A economia não vai arrancar se não for com pessoas com convicção, com ambição, com capacidade de correr riscos e que se lancem em aventuras empresariais. Sinto que aí temos muito a fazer ainda. Não sinto, enquanto país, que tenhamos criado um ambiente conducente a que as pessoas corram riscos e que as pessoas criem empresas e estabeleçam os seus próprios negócios.
– Mas olha-se com desconfiança para quem é empresário ou investidor por uma questão às vezes política ou ideológica ou por algum motivo cultural atávico?
JC — Penso que é um pouco das duas coisas. Há um aspecto cultural importante em alguém que sai da universidade com o objetivo número um de encontrar um emprego a trabalhar por conta de outrem. São muito poucos aqueles que pensam em criar o seu próprio projeto e com esse projeto criar empregos bem pagos e criar um negócio produtivo e contribuir para a economia. Penso que há muito pouca gente a questionar-se dessa forma. O objectivo é encontrar um emprego por conta outrem e se há 25 anos, quando a Critical apareceu, esses empregos estavam cá, agora há empregos mais bem pagos lá fora, portanto, não é surpreendente que os jovens licenciados saiam do país para ir procurar salários maiores a trabalhar por conta de outrem.
Penso que há muito espaço e há muita oportunidade para muitos desses jovens pensarem de forma um pouco diferente e tentarem fazer algo por Portugal.
— E também foram formados em Portugal, houve um investimento neles, não é?
JC — Exatamente. Por vezes fala-se naquilo que o país não faz para reter estes jovens, mas penso que se devia falar também daquilo que o país faz, que foi oferecer uma educação gratuita. Eu tive uma educação gratuita. Formei-me em Engenharia, fiz um doutoramento, foi tudo pago pelos meus concidadãos, todos nós. Estou grato por isso e tenho uma dívida para com o país por isso. Podia não ter sido assim, não ter tido uma educação totalmente paga pelos meus concidadãos, como de resto há muitos países que não o fazem. Nos Estados Unidos, se eu quiser ter esse nível de estudos tenho de pedir um empréstimo, suportar os custos e depois pagar uma [prestação ao banco].