Quem quer trabalhar todo o tempo da sua vida?

Convido a que cada pessoa pense o modelo de trabalho que melhor se adequa à sua realidade

Muitos são os modelos ou os níveis de ligação a um trabalho na sociedade hoje em dia. Há quem prefira trabalhar a tempo parcial, a tempo inteiro ou um trabalho para a vida. Como saber o que é certo para cada pessoa?

Considerando que o trabalho é essencial para a vida, por ser a base de rendimentos e que ocupa uma parte significativa do nosso tempo, todas as pessoas deveriam ter a oportunidade de trabalhar em algo com o qual se identifiquem.

Adicionalmente, a não identificação das pessoas com a sua atividade pode originar desmotivação, temas de saúde mental, para além da óbvia baixa performance. Por outro lado, se a atividade profissional exigir uma dedicação que considera excessiva e que lhe retira tempo que gostaria de dedicar a outras tarefas que proporcionam equilíbrio, como pode essa pessoa estar a proporcionar o seu melhor desempenho?

Neste sentido, há quem opte por trabalhar a tempo parcial e o caso mais clássico são os jovens estudantes, mas também pessoas ao longo da sua vida ativa e até pessoas com uma carreira longa que optam por reduzir a sua carga horária. Este modelo não implica um desprendimento ao trabalho, nem uma desresponsabilização, nem uma falta de cuidado quando algo urgente aparece.

É simplesmente um balanço que as pessoas optam por ter e por vezes até pode ser para equilibrar com outras atividades (profissionais ou não) que geram um estímulo intelectual diferente. Claro que também existem aquelas pessoas que têm tanta experiência na vida que conseguem já ser bastante eficientes e sabem estrategicamente os melhores e mais rápidos caminhos a seguir.

Quem se lembra da história da mãe que a passear com o seu filho encontra o Pablo Picasso e lhe pede um desenho? Picasso, muito solicito, faz um desenho rapidamente e entrega à criança, dizendo à mãe o valor que ela lhe tem de pagar. A mãe, chocada, diz: “mas apenas dedicou um minuto a fazer o desenho, como pode cobrar esse valor”? E Picasso explica: “eu não cobro por um minuto de trabalho, mas pelos anos de aprendizagem que foram um investimento para agora conseguir fazer esse desenho num minuto”.

Temos também as pessoas, onde se encontram a maioria da população, com o seu trabalho a tempo inteiro. Nestes há quem combine com algumas atividades sociais associadas à profissão ou académicas.

Depois temos as pessoas que têm um trabalho para a vida e aqui podemos encontrar quem ainda tem a expectativa que o seu emprego seja a relação que mantém até à reforma ou noutra perspetiva é o trabalho que ocupa toda a sua vida.

Claro que estas últimas pessoas também têm vida familiar, hobbies e amizades, mas sempre com algum desequilíbrio seja nas horas mais estranhas a que trabalham, seja mesmo quando não estão fisicamente a trabalhar a sua mente está a resolver problemas laborais e/ou a criar novas oportunidades. Muitas vezes até é melhor que estas pessoas se sentem a trabalhar ou a escrever uma nota sobre algo, para que assim não continue a latejar na cabeça como algo que tem de ser feito.

Na era em que a produtividade e a saúde mental são dois pontos de atenção na economia e no bem-estar de cada pessoa como ser humano, o que convido é que cada pessoa pense qual o modelo que melhor se adequa à sua realidade. E não há um modelo certo. Creio, no entanto, que há um modelo que melhor se adequa a cada pessoa em cada fase da vida.

Nesta verdade e identificação pessoal, até há pessoas que têm uma vida dedicada ao trabalho e que estão perfeitamente equilibradas tal como pessoas que estão a tempo parcial e conseguem fazer a diferença na qualidade e até na quantidade de interações que constroem.

Como dizia Oscar Wilde “Seja você mesmo, porque todos os outros já existem”.

Gestora e mentora