Valorizar o talento e eliminar as maçãs podres

Portugal tem de valorizar quem, com independência, pensa bem e di-lo sem receio de represálias.

Reformar Portugal na saúde, na educação, na fiscalidade, no apoio às empresas da indústria ou do turismo ou da agricultura sustentável. (Re)desenhar o papel e ação do Estado na sociedade e na economia. Captar e reter talentos. Melhorar na gestão e na construção da reputação das nossas marcas e da marca-país. Executar a estratégia para crescer mais e sustentadamente acima dos 3%, com maior ambição e visão, nos próximos anos.
Estas poderiam ser prioridades e recomendações de partidos políticos para as eleições de março, mas são, afinal, imperativos patrióticos prescritos por vários especialistas que escrevem nesta edição. Abel Mateus (economia), Pedro Pita Barros (saúde), Rafael Campos Pereira (empresas e trabalho), Jorge Costa Oliveira (geopolítica e comércio internacional) e Salvador da Cunha (gestão e reputação) brindam-nos com textos que revelam bem a qualidade do seu pensamento estratégico e são um valor acrescentado na reflexão sobre o futuro do país.
Lendo as suas crónicas, em formato outlook 2024, cada vez acredito mais que Portugal precisa mesmo de pessoas que pensam pela sua cabeça, têm coluna vertebral e dizem / escrevem o que pensam sem receio das consequências, de preferência em títulos de media independentes e credíveis.
Por isso, valorizar o talento e o mérito implica eliminar as maçãs podres (na política, na economia ou nos media). Com a imagem das maçãs, debatemos agricultura nesta edição (Eduardo Oliveira e Sousa e Francisco Gomes da Silva), a ver em Amanha.pt e Euronews.
O país real – empresas, universidades, fundações, autarquias, cidadãos comuns – necessita de um sobressalto cívico e de ousadia para mudar o que já deveria ser alterado ou reformado há décadas na administração central, regional e local, na estrutura da economia e nas políticas públicas.
Sejamos claros: os portugueses podem fingir que toleram políticos fracos (à esquerda ou à direita) ou que ignoram que vivemos num pântano social e económico (mais do que político), mas não são tolos, mesmo que as sondagens sugiram aumento dos votos de protesto.
O custo de oportunidade de não reformar Portugal é demasiado elevado e basta de fingir que está tudo bem ou que o rei não vai nú. Quem, na política, continuar a empurrar problemas estruturais com a barriga deveria ser penalizado nas urnas, em março ou noutras eleições a curto ou médio prazo.
Um governo minoritário, sustentado numa maioria parlamentar instável, pode durar poucos meses ou até pouco mais de um ano como aconteceu com o primeiro governo (minoritário) de Cavaco Silva, quando caiu, em 1987, perante uma moção de censura apresentada pelo PRD (um epifenómeno que dividiu o PS), o que levou a novas eleições e a duas maiorias absolutas. A História repete-se? Os portugueses decidirão, em liberdade.

luis.ferreira.lopes@newsplex.pt