A Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP28), que se realiza de 30 de novembro a 12 de dezembro de no Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, tem sido marcada pela discussão sobre o futuro dos combustíveis fósseis e a sua eliminação progressiva.
Uma análise da coligação “Kick Big Polluters Out” (KBPO), lançou controvérsia ao revelar que um número recorde de lobistas de combustíveis fósseis tiveram acesso às negociações climáticas da COP28. Pelo menos 2.456 pessoas ligadas às indústrias do petróleo e do gás, estiveram presentes, o que representa um aumento quase quatro vezes superior ao do ano passado.
Os lobistas da indústria terão recebido mais passes para a COP28 do que todos os representantes dos dez países mais vulneráveis ao clima juntos (1509), incluindo a Somália (366), Chade (554), Níger (135), Guiné-Bissau (43), Micronésia (26), Tonga (79), Eritreia (7), Sudão (46), Libéria (197) e Ilhas Salomão (56), revela a análise.
Mais de uma centena de países é a favor da eliminação progressiva dos combustíveis fósseis, sendo expetável que esta medida faça parte do acordo final da COP28.
Contradições de Al-Jaber
O clima de desconfiança em torno da cimeira começou antes mesmo do seu arranque, quando a BBC divulgou documentos que sugeriam que os Emirados queriam aproveitar a posição de anfitrião para fechar acordos de venda de petróleo. Algo que foi imediatamente negado pela presidência da cimeira.
A escolha de Sultan Ahmad al-Jaber para liderar a cimeira não foi consensual. Para além de os Emirados Árabes Unidos serem um dos maiores produtores de petróleo do mundo, o próprio Ahmad al-Jaber é o dirigente da companhia petrolífera estatal de Abu Dhabi. O sultão tem tentado jogar à defesa para fugir às contradições, mas acabou por mais uma vez a ter de justificar-se após um vídeo divulgado pelo jornal britânico The Guardian. O vídeo diz respeito a um debate com a ex-Presidente irlandesa e antiga Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Mary Robinson, em que al-Jaber considerou a saída dos combustíveis fósseis inevitável, mas advertiu que uma transição muito rápida para limitar o aquecimento global a 1,5ºC levaria o mundo à “idade das cavernas”.
Depois de ser acusado de “negacionismo climático”, o presidente da cimeira climática assegurou que não só “acredita” como respeita “muito a ciência” e apelou a uma redução de 43% das emissões de gases com efeito de estufa até 2030.
Entre os compromissos já assumidos na COP28 está o a “Carta de Descarbonização do Petróleo e do Gás”. Cerca de 50 empresas de petróleo e gás comprometeram-se, por exemplo, a realizar “operações neutras em termos de carbono” até 2050. Mas, para o secretário-geral da ONU, António Guterres, as medidas assumidas “são claramente insuficientes”.