No período pós férias de verão, como antecipa estes quatro meses até ao final do ano, a nível económico do país e da sua atividade, em particular?
Jaime Esteves – Estamos a terminar a “silly season” e, por isso, é ainda difícil ter noção da real situação política e económica. Há tensões prestes a ganhar mais relevo no curto prazo: instabilidade nos mercados financeiros, ingovernabilidade em Espanha e em França, eleições americanas, guerras na Ucrânia e no Médio Oriente, perigo de novas epidemias, distanciamentos ideológicos e sociais profundos e, claro, dúvidas sobre a sustentabilidade do Governo de Portugal, em função do debate orçamental do Outono.
Para já, os tempos são de normalidade otimista, mas há muitas probabilidades de surgirem problemas, já no curtíssimo prazo, que nos tragam de volta à realidade das nossas dificuldades nunca resolvidas: a enormidade da despesa pública necessária para financiar serviços públicos inoperantes.
Na minha atividade, o otimismo económico leva a maior trabalho no mercado de fusões e aquisições, e o pessimismo económico leva a uma maior projeção da área das reestruturações. Ou seja, o nível de atividade nos serviços jurídicos deverá manter-se, faltando saber qual a natureza da atividade: se de apoio ao expansionismo, se de ajuda à recuperação.
Se o OE 2025, que será apresentado em outubro, não passar em novembro, deve haver novas eleições? Ou que outra solução deveria ser encontrada, nesse cenário?
JCE – Sendo nós uma pequeníssima economia aberta e, por isso, sempre fortemente afetada pelas crises externas, brincar com o fogo nesta altura seria uma grande inconsciência. É por isso aconselhável muita cautela e estabilidade no ano de 2025, para não sermos apanhados em desequilíbrio, como ocorreu em 2011.
O Orçamento em vigor este ano (2024) é o Orçamento aprovado em 2023 pela então maioria e que hoje está na oposição. Ter conseguido governar todo este ano com um orçamento contra o qual a atual maioria votou é já notável. Governar em 2025 com duodécimos desse orçamento da oposição, tendo ainda em conta as várias alterações fiscais entretanto aprovadas, parece-me um exercício muitíssimo mais difícil, se não mesmo impossível.
Não vejo alternativa à aprovação do Orçamento. Por outras palavras, poderemos estar, no Outono, a apagar o fogo com gasolina. E isto num ano em que é necessário acorrer a um número enorme de temas relevantes: execução do PRR, privatização da TAP, empreitadas do aeroporto e do TGV, recuperação da saúde, da justiça, da educação e da habitação, uma agência de migrações que não nos envergonhe no mundo, etc.
O que mais apreciou neste primeiro ano do “Portugal Amanhã”?
JCE – O Portugal Amanhã veio ocupar um espaço de reflexão necessário e relevantíssimo sobre o que pretendemos coletivamente para o País, numa grande multiplicidade de temas e de como lá poderemos chegar, num prazo razoável. E este ano demonstrou que essa reflexão é possível e extremamente útil. O que mais apreciei foi esse contributo para identificar caminhos para um Portugal de sucesso e de oportunidades para todos.