Depois do Fundo Monetário ter revisto em baixa as previsões do crescimento economia, Luís Aguiar-Conraria afirma que se «por natureza» já desconfia das previsões, «num ano como este ainda mais, pois nem sequer sabemos qual é o Governo que vamos ter aqui daqui a meia dúzia de meses».
O FMI cortou crescimento de Portugal para 2% este ano e está mais pessimista que o Governo…
Não ligo muito a previsões, e uma revisão para 2%, apesar de tudo, não é péssimo. Imagino que estejam pessimistas com tudo o que se está a passar, quer na Europa, quer nos Estados Unidos, mas a verdade é que a incerteza é absolutamente enorme. Basta olhar para a questão das tarifas, que estão suspensas durante três meses, o que quer dizer que nem sequer sabemos quais serão as barreiras alfandegárias daqui a uns meses. Quando estamos nesta situação, as previsões são impossíveis de fazer. Não consigo dar importância às previsões pessimistas nem às otimistas, porque qualquer previsão que seja feita tem como base tantos pressupostos incertos que terá uma margem de erro enorme. Se por natureza já desconfio das previsões e das revisões das previsões, então num ano como este ainda mais, pois nem sequer sabemos que Governo vamos ter daqui a meia dúzia de meses.
A par dos Estados Unidos também apontou para os riscos na Europa. A Alemanha continua a fazer soar alarmes…
Estamos a tirar ilações dessas previsões para a política nacional e para saber se a AD ou os partidos estão a ser pessimistas ou otimistas, se os seus programas são realistas ou irrealistas, mas depois vamos ver o cenário em que assentam essas previsões e são coisas que não dependem de nós. Nem a oposição, nem o Governo têm qualquer culpa dos disparates de Trump. Nem a oposição, nem o Governo têm qualquer culpa se a Alemanha terá uma recessão mais grave, tal como não têm culpa dos avanços ou dos recuos no processo de paz ou no fim da guerra com a Ucrânia. E não acho saudável que isto interfira no nosso processo eleitoral, mas também acho que os partidos não devem fazer promessas incondicionais e quaisquer que sejam as suas propostas devem considerar a hipótese do que teriam de ajustar se o crescimento for inferior ao esperado e quais são os pontos dos seus programas menos importantes e quais seriam os primeiros a sofrer ajustes caso fosse necessário.
As preocupações com o crescimento económico e produtividade estão afastadas do debate político?
Houve um momento que me deixou um bocadinho surpreendido, quando houve uma conferência de imprensa do ministro da Economia a dizer que não podia garantir que, em 2026, não haveria défice. Depois parece que há um recado de Montenegro e deu a garantia absoluta que, em 2026, não haverá défice. Devíamos ser um bocadinho mais maduros em relação a isto e dizer às pessoas que estamos com esta enorme incerteza e que se o crescimento for acima dos 2% então poderemos reduzir este e aquele imposto, mas se ficar entre 1% e 2% então se calhar vamos ter de descer menos este imposto ou aumentar menos aqueles gastos. No entanto, estamos em campanha eleitoral e é natural que cada partido puxe a brasa à sua sardinha.