Nariz de Enólogo. As 10 sugestões de vinho da enóloga Filipa Pato

A partir da Bairrada, Filipa Pato aposta na produção de vinhos com alma biodinâmica. A premiada “Enóloga do ano” (2020) deixa 10 sugestões de vinhos para quem tem o olfato e o paladar apurados.

Engenheira química de formação, Filipa Pato decidiu seguir as pisadas do pai, Luís Pato, reputado produtor e enológo da região da Bairrada. Juntamente com o marido, o sommelier belga William Wouters, criou a própria produção de vinhos “sem manipulações”, seguindo os preceitos da agricultura biodinâmica.

Por que é que decidiu apostar numa produção própria de vinhos?
Filipa Pato – Na Bairrada havia muitas vinhas a serem abandonadas em sítios espetaculares e a converterem-se a castas internacionais. Na altura, pensei que era uma oportunidade interessante e ao mesmo tempo não queria que a nossa região perdesse a identidade.
Nós não usamos herbicida, portanto, as ervas crescem, e aqui crescem muito rápido, porque temos um clima atlântico e períodos de chuva e sol intensos na primavera em que o coberto vegetal está sempre a crescer. Optámos também por fazer um coberto vegetal local e começámos a recolher sementes de plantas que achámos que eram benéficas para a vinha, como trevos e orégãos.
A natureza é difícil de compreender e eu sei que mesmo quando morrer não a terei compreendido no seu todo, mas pelo menos enquanto estou cá gosto de tentar.

Como é que a Filipa Pato & William Wouters está em termos de volume de negócios?
FP – Não somos uma empresa muito grande. Faturamos um pouco acima de um milhão de euros, mas temos mercado para fazer mais do que isso. Não fazemos porque não queremos fazer volume, queremos fazer qualidade.

A maior parte do vinho que produzem vai para a exportação?
FP – Sim. Quando comecei a região da Bairrada não era muito conhecida em Portugal, a baga era difícil de trabalhar e, na altura, optei por exportar. Sendo mulher também era um pouco mais complicado…

Sentiu algum preconceito por ser mulher?
FP – No início, sim. Em Portugal é difícil, mas há mercados em que acho que é uma vantagem ser mulher, como os Estados Unidos da América. Ainda mais se agora a presidente for uma mulher [risos].
Exportar foi também uma forma de dividir o risco e não estar só dependente de Portugal, porque Portugal está muito mais vulnerável às crises económicas. Também gosto de provar vinhos estrangeiros e de conhecer novas regiões, portanto, era também uma oportunidade de conhecer mais.
Os últimos anos têm sido a nosso favor em Portugal, embora continuemos a vender 90% para fora, para mais de 40 mercados.

Há algum projeto ou vinho novo em que estejam a trabalhar?
FP – Nós temos sempre ideias novas. Para nós, vinho novo é colheita nova, porque cada ano é uma realidade diferente. Cada vez é mais difícil produzir vinho porque temos anos cada vez mais desafiadores.
Temos algumas novidades que lançámos há pouco tempo, que é o caso da flor de castanheiro, que é um vinho que fizemos com flor de castanheiro, em conjunto com um outro produtor que trabalha em biodinâmica, a Quinta da Palmeirinha. A flor de castanheiro tem muitos componentes antioxidantes, antibactericidas e permite a não utilização de sulforoso.

Quais são as principais tendências futuras no consumo de vinho?
FP – Acho que as pessoas vão beber menos, mas melhor. Depois da Covid houve uma maior consciência de contacto com a natureza, mesmo para os mais os citadinos. Há mais estrangeiros a viver em Portugal, portanto o consumo mudou muito. Há também um consumidor mais esclarecido, as pessoas sabem o que é que estão a beber e há uma maior procura pela formação.

Como contornar o problema da redução do consumo?
FP – As grandes produções estão a sofrer bastante e há produtores com grande dificuldade em escoar os vinhos. Acho que também têm de que ser mais dinâmicos, fora da caixa, mais criativos.

Em termos de políticas governamentais, o que é que é necessário para apoiar o setor?
FP – Acho que devemos apoiar mais as pessoas e menos as máquinas. Temos de humanizar a agricultura. A mecanização da agricultura foi rápida demais e perdeu-se muito o saber empírico, que é fundamental. Se o Estado quer fazer uma política para apoiar a agricultura tem de reduzir os apoios nos tratores e nas máquinas, que também são mais poluentes, e apoiar a contratação de mais pessoas para o campo.

AS MINHAS ESCOLHAS

Portugal

  • 2022 Curtimenta Loureiro – Quinta da Palmirinha
    Vinho Verde
  • 2021 Terrantez do Pico – Azores Wine Company
    Azores
  • 2022 Encruzado – Casa de Mouraz
    Dão
    2018 ‘A Centenaria’ – Antonio Madeira
    Dão
  • 2017 Branco ‘Goncalves Faria’ – Niepoort Quinta de Baixo
    Bairrada

Internacional

  • 2016 Champagne “Efflorescence” Blanc de Noirs Extra Brut – Marie Courtin
    Champagne – France
  • 2022 Assemblage de Blancs (Ermitage, Petite Arvine, Sylvaner) –Marie-Thérèse Chappaz
    Valais – Switzerland
  • 2017 Vigneti delle Dolomiti IGT (Teroldego) “Granato” – Foradori
    Trentino Alto Adige – Italy
  • 2012 Barolo DOCG
    –Bartolo Mascarello
    Piemont – Italy
  • 1999 Richebourg
    – Domaine Leroy
    Burgundy – France