Fundação Terra Agora está a restaurar terrenos portugueses e procura “guardiões”

A Fundação Terra Agora começou a regenerar um terreno de 1600 hectares em Idanha-a-Velha, doado pelo antigo proprietário. “É o primeiro de muitos”, afirma Filipa Simões.

Há um terreno de 1600 hectares, em Idanha-a-Velha, no distrito de Castelo Branco, a ganhar uma nova vida. A Fundação Terra Agora, em conjunto com a empresa PlantarFuturo, tem a missão de restaurar e regeração deste terreno, doado pelo seu antigo proprietário. É “o primeiro de muitos projetos” desta fundação, que tem como missão adquirir terrenos, através de compra ou de doação, e promover projetos inovadores de conservação e regeneração da natureza, através de entidades que se tornam os seus “guardiões”.

O projeto de Idanha-a-Velha conta com uma equipa de nove profissionais dedicados a várias atividades regenerativas. Desde a reflorestação do território, à produção de azeite em modo biológico com integração de animais de pasto, até a atividades artísticas, encontros e oficinas, envolvendo a comunidade local.

“O objetivo é manter esta conservação perpetuamente e deixar um legado de bem-estar para as próximas gerações. Queremos que elas também possam beneficiar da mesma forma que nós temos beneficiado até agora”, explica Filipa Simões, Presidente do Conselho de Administração da Fundação Terra Agora.

Através de um modelo de propriedade perpétua, a Fundação garante que os terrenos adquiridos não podem, depois, voltar a ser vendidos nem usados para fins especulativos.

“Nós transformamos o ciclo da compra e venda num ciclo de conservação perpétua. A fundação funciona como um cofre”, afirma Filipa Simões.

Projetos-guardiões

Um cofre que precisa de entidades coletivas que se dediquem à regeneração e à conservação destes terrenos. São os chamados projetos-guardiões, que devem apresentar retornos num horizonte de 175 até 300 anos em cinco tipos de capitais – natural, social, humano, construído e financeiro – fomentando o desenvolvimento local.

Filipa Simões alerta que “é importante que não haja uma relação de dependência do guardião e da fundação”. Os projetos devem ter uma autonomia financeira e de gestão, independentes da Fundação.

As entidades que queiram tornar-se projetos-guardiões entrar em contato por e-mail ou através do formulário no website da Fundação Agora.
Além de “guardiões”, a Fundação procura também terras novas para expandir a sua atuação

A Lei do Restauro da Natureza, recentemente aprovada a nível europeu, define como meta a recuperação de pelo menos 30% dos habitats em mau estado até 2030, 60% até 2040 e 90% até 2050. Em Portugal, a Fundação está comprometida com o objetivo definido pela UE, mas enfrenta alguns obstáculos.

“Quando iniciámos este projeto muita gente questionou como é que as pessoas iam doar os seus terrenos e/ou as suas propriedades. Na cultura ocidental não existe muito esta cultura de dar, há uma certa desconfiança.”, admite Filipa Simões. “Mas a verdade é que a fundação iniciou já com um terreno de 1600 hectares, que foi doado, e está a participar já com o seu projeto-guardião e a trazer resultados muito positivos na região de Idanha-a-Velha.”

Regenerar e conservar terrenos é um trabalho a longo-prazo e quem trabalha nestes projetos tem a conseiència de que o tempo pode ser um desafio.

“Com as alterações climáticas a atingirem-nos de forma mais frequente, mais forte e mais exigente, há cada vez menos tempo para experimentação. É importante implementar projetos que sejam eficientes. Para mim este é o desafio. o desafio do tempo.”

Num momento em que mais de 80% dos habitats europeus estão em más condições, é urgente que todos os países europeus tomem medidas.

“É importante plantar árvores, mas mão é suficiente. É importante garantir que este trabalho tem continuidade. Se não conseguimos conservar o que ainda existe, então a regeneração também não nos serve de grande coisa. São dois trabalhos que têm de ser feitos simultaneamente”, conclui a representante da Fundação.

“Estou muito otimista. A ideia é angariarmos pelo menos um bem estratégico por ano. Este é um projeto único em Portugal e até mesmo na Europa. Esta componente de inovação, é, para mim, o que traz aqui o fator de sucesso no futuro. Os problemas não podem ser resolvidos com a mesma mentalidade que os criou”.