Há vida além do défice (e do Orçamento), para citar o Presidente Jorge Sampaio. A prova disso é que os agentes económicos estão a fazer o seu trabalho, apesar da novela mexicana que tem sido o longo período de negociações, encenações e acusações entre Governo, PS e Chega, sendo que a maioria dos portugueses não estará interessada em ir para novas eleições.
Pelo lado das empresas, o foco é a conquista de novos mercados e o ajustamento da estrutura face a nova quebra da receita ou da procura externa, com a Europa praticamente estagnada. Este ano, a economia portuguesa deverá crescer apenas 1,6%, bem abaixo das previsões. Do lado das famílias, aproveita-se algum alívio da inflação e das taxas de juro do BCE para amortizar empréstimos ou canalizar verbas para poupança (igual a 11% do rendimento disponível.)
A este propósito, vale a pena destacar alguns dados partilhados pelo governador do Banco de Portugal, em recentes conferências do setor do turismo, em especial da restauração, e também quando da divulgação das previsões de Outono.
Mário Centeno sublinha que, apesar do período da pandemia e da crise energética (e da forte subida inflação, com a invasão russa à Ucrânia), os salários subiram, em média, cerca de 90%, entre 2015 e 2024 (se contarmos com os dados finais do primeiro semestre).
Ora, a pressão salarial é transversal a todos os setores da economia, mas o país continua a ser pobre. Os portugueses auferem das mais baixas remunerações no salário mínimo e no médio, o que ajuda a explicar a saída de talento jovem (e mais maduro), nos últimos anos.
Sem um choque de crescimento, com mais investimento público e privado; sem reformas de fundo; e sem um forte alívio fiscal, os portugueses vão continuar a procurar trabalho (ou aceitar ofertas) noutros mercados, na Europa ou fora. E, com menos receita, o Estado terá de cortar despesa, sob pena de voltar ao défice. Por isso, avisa Centeno, é preciso ter almofadas financeiras para precaver a inversão de ciclo e evitar surpresas quando perguntarmos: “preparámo-nos para a crise?”
Esta reflexão surge a propósito do OE 2025. Por isso, mesmo sem ainda saber se passa ou chumba, destacamos nesta edição a análise de economistas e representantes setoriais como António Nogueira Leite, Armindo Monteiro, Ema Paulino, entre outros especialistas.
Nota ainda para a oportuna crónica de Ricardo Marvão sobre os desafios da inovação e do empreendedorismo na União Europeia, com esperança renovada na liderança feminina na Comissão, a poucas semanas da realização da Web Summit em Lisboa. De olhos postos no futuro. Sempre.
luis.ferreira.lopes@newsplex.pt