Na semana passada, reuni com a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e, no mesmo dia e a pedido da Presidente, reuni com a Comissária Ekaterina Zaharieva, dedicada exclusivamente a Startups, Pesquisa e Inovação. Pela primeira vez, foi apresentada na nova equipa da Comissão Europeia uma comissária para as Startups.
Esta nomeação representa um marco importante para o futuro da inovação europeia e devo confessar que sair das reuniões com uma nova energia e esperança no futuro das startups na Europa.
Durante vários anos, especialistas, empreendedores e economistas alertaram para a necessidade de uma liderança mais forte e focada na promoção da inovação na Europa, com um pelouro dedicado a este tema.
A resposta da União Europeia a essa pressão materializa-se agora, em 2024, com a criação de um cargo que sinaliza o reconhecimento da UE da urgência de transformar o ecossistema de inovação e, ao mesmo tempo, de aumentar a competitividade global.
O debate em torno da inovação na Europa não é recente. Há muito que o continente apresenta dificuldades em acompanhar o ritmo de países como os EUA e a China, particularmente na capacidade de converter avanços científicos em aplicações práticas e comerciais. Realmente, a comercialização da inovação/invenção é o calcanhar de Aquiles do velho continente.
Apesar de a Europa ter vindo a ser apontada como um continente com grande potencial de pesquisa, enfrenta obstáculos na criação de ambientes favoráveis para startups (especialmente na fase de growth, pois poucos fundos conseguem acompanhar rondas de investimento realmente grandes) e na transformação de ideias em produtos com impacto global significativo.
O mais recente relatório de Mario Draghi expõe, de forma clara, essa fragilidade, sublinhando a necessidade de investimentos mais impactantes em tecnologia, pesquisa e desenvolvimento e políticas que favoreçam o empreendedorismo na Europa.
A presença de uma comissária focada nas startups e na inovação é, assim, um passo crucial que responde a todas as reivindicações. Da conversa com a Comissária, deu para perceber que desta vez não é só conversa e o que se pretende é mesmo avançar.
Alguns exemplos disso foram os temas falados na reunião como a criação do 28º regime, as mudanças no public procurement e a criação das sandboxes europeias. É a prova de que, quando as políticas são lideradas pelas pessoas certas, com autoridade para promover a mudança, a credibilidade e o impacto das ações políticas aumentam consideravelmente.
Nos últimos anos, a Comissão Europeia fez avanços em áreas como a regulamentação digital e o financiamento de tecnologias limpas, mas o foco em startups e inovação ainda carecia de uma estratégia eficaz.
Agora, com uma nova liderança, há a grande expectativa de que a UE possa finalmente acelerar as reformas necessárias para se tornar num hub global de inovação.
O Relatório Draghi veio apenas reforçar esta necessidade de transformação, colocando a Europa numa posição de perda de competitividade global, devido a uma série de fatores, incluindo o envelhecimento demográfico, a estagnação da produtividade e a dependência excessiva de fornecedores externos em setores estratégicos.
Draghi alerta que, sem uma intervenção rápida e coordenada, a inovação europeia continuará a perder terreno para os EUA e a China, o que poderá ter efeitos profundos na economia da UE.
Enfrentamos uma ameaça existencial da Europa como entidade competitiva e relevante no planeta. Com todas estas mudanças, alinhando as políticas com uma liderança eficaz, a UE tem agora de revitalizar o seu ecossistema de startups e reverter o caminho de perda de competitividade identificado por Mario Draghi, afirmando-se de facto como uma potência tecnológica global no cenário do século XXI.
Cofundador e Chief Growth Officer na Beta-i