Inovação: o único caminho para um Portugal com futuro

As empresas portuguesas apostam pouco na inovação via investimentos em I&D

Este ano celebraram-se os 30 anos do relatório Porter, sobre a competitividade da economia Portuguesa. Se Michael Porter regressasse a Portugal hoje diria que este estava stuck in the middle. Com a globalização, deixou gradualmente de ser capaz de competir pelo custo na maioria das indústrias, e com a excepção de algumas, poucas, empresas excepcionais, não foi capaz de se posicionar internacionalmente pela diferenciação dos seus produtos e serviços, sobretudo em sectores de elevada incorporação tecnológica e I&D intensivo, limitando a sua capacidade de competir nos mercados internacionais, de criar emprego qualificado e bem renumerado, e de crescer. Enquanto o made in Portugal fez bons progressos, o invented in Portugal continua por realizar.

O Global Innovation Index 2023 da World Intellectual Property Organization (WIPO) indica que, de 132 países analisados, Portugal ocupa o lugar 30 dos países mais inovadores. As áreas em que surge melhor classificado são: “Produção Criativa (lugar 19), “Capital Humano e Investigação (23) e, “Produção de Conhecimento e Tecnologia” (32); Nas restantes áreas, Portugal tem posições mais frágeis mas na maioria dos casos, respeitáveis: “Instituições” (35), “Sofisticação dos Negócios” (34), “Sofisticação do Mercado” (42) e, “infra-estrutura” (45). Analises mais finas, demonstram, contudo, que o investimento continua a ser uma das áreas com pior desempenho (lugar 52), bem assim como a produtividade do trabalho de investigação (lugar 73), este ultimo revelando, sobretudo, um problema de gestão da investigação / inovação.

Dados do Eurostat de 2021 mostram que Portugal se posicionava no décimo primeiro lugar na UE-27 em termos de investimento em I&D em percentagem do PIB, com cerca de 1,71% – um aumento significativo desde 2012 de (1,38%). Contudo, este aumento significativo ficou a dever-se também a um regime fiscal (entretanto revisto) que incentivou investimentos indirectos em I&D (por exemplo, em fundos de investimento dedicados a investimentos em I&D), que depois nem sempre foram executados e se traduziram na fixação de actividades de I&D intensivo e de alto valor acrescentado. Em 2021, 53,7% do investimento em I&D em Portugal provinha do sector empresarial (12 lugar na UE-27) enquanto que 35,6% era assegurado do governo (incluindo financiamento ao ensino superior), colocando Portugal em décimo oitavo lugar em termos de peso do Estado no investimento em I&D.

Ao mesmo tempo, as grandes empresas Portuguesas apostam pouco na inovação via investimentos em I&D. No relatório “2023 EU Industrial R&D Investment Scoreboard”, que lista as 1000 empresas Europeias com maior investimento em I&D, encontramos apenas cinco empresas Portuguesas, a saber – EDP, Bial, CGD, Caixa Agrícola, e CTT. No total, a EDP contribui com 55% do investimento e a Bial com 17%. Descontando a EDP, apenas a Bial traduz investimento em bens transaccionáveis de exportação. Por comparação, a Espanha tem 27 empresas no top-1000, seguindo-se a Bélgica (34), Áustria (37), Irlanda (42), Finlândia (47), Dinamarca (69), Holanda (69), Suécia (144), Franca (147) e Alemanha (291). Em todas estas economias existe uma preponderância de empresas em sectores de bens transaccionáveis na lista.

Mas se ao nível do investimento existe muito a melhorar, ao nível dos resultados existe ainda mais caminho para fazer. De acordo com o European Patent Office, do total de mais de 104 mil patentes registadas em 2023 por este organismo, apenas 44% provieram de países da UE. Dentro dos países da UE Portugal não figura em nenhuma das tabelas nas 10 principais áreas técnicas e científicas. Em matéria de clusters de ciência e tecnologia, Portugal não figura no top 100, colocando Lisboa e Porto nos centros de I&D imediatamente a seguir a essa lista. Muito pouco, para um pais que quer integrar o pelotão da frente da Europa.

O baixo investimento das empresas nacionais em I&D é muito revelador. Revela desde logo que em Portugal não só existe pouco capital, como o que existe é altamente avesso ao risco e pouco especializado. Por outro lado, revela falta de estratégia de longo prazo no tecido empresarial Português – e, por isso mesmo, falta de ambição. A Business Roundtable Portugal (BRP) tem desenvolvido bom trabalho num conjunto de áreas, mas, tem-se focado no “tamanho” das empresas como um fim em si mesmo, e, apesar de ter a inovação como um tema, esta aparece mais em segundo plano e pouco visível do ponto de vista comunicacional. As empresas tornam-se grandes porque inovam, ou passam a inovar porque são grandes?

Se ser grande fosse sinónimo de forte investimento em I&D e inovação, a Jerónimo Martins, a SONAE, a Galp ou a Navigator, apareciam na lista do EU Industrial Scoreboard citada acima. Os caminhos para aumentar a dimensão das empresas nacionais – que parece ser o objectivo último – não são muitos: ou existem movimentos de concentração em alguns sectores emergindo empresas com maior escala (mas sempre relativamente pequenas quando comparadas com os gigantes Europeus e mundiais), ou as empresas se internacionalizam por expansão orgânica ou aquisição.

Tudo isto tem riscos próprios, que muitas empresas em Portugal já experimentaram quando decidiram crescer no Brasil, por exemplo. Com um mercado interno relativamente pequeno, focar no “tamanho” e na escala será sempre um desafio imenso (e uma frustracao) para as empresas Portuguesas. O foco tem de ser na inovação e especialização, e se dai resultar dimensão, tanto melhor. A China, com um mercado interno gigantesco, pode dar-se ao luxo de crescer primeiro e inovar depois, mas um país como Portugal só será bem-sucedido com a inovação como prioridade numero um, dois e três! Por estes motivos, parece-me que inovação deve ser a palavra de ordem, e deve permear tudo o que fazemos em Portugal.

Por isso, esta coluna mensal será sempre ligada ao desenvolvimento de um Portugal Inovador, cada mês focando em um aspecto específico para ajudar ao debate e a colocar a inovação no topo das prioridades dos decisores políticos e empresariais.

Professor de Governance e Reputação na Henley Business School