Como é que olha para o país daqui a 20 anos?
António Ricardo Oliveira – Temos mais uma grande oportunidade com esta questão da Inteligência Artificial (IA) e de tudo o que isso pode trazer para melhorar a produtividade. Sabemos que a produtividade é um dos problemas crónicos do país e temos a felicidade de a tecnologia nos estar a levar na direcção de ferramentas que vão fazer crescer exponencialmente a produtividade.
Acho que isso responde não só às necessidades das empresas, mas também às do país, se a IA nos conseguir tornar um país mais produtivo e se nos facilitar o processo de decisão.
Sabemos também que vai haver uma capacidade muito maior de processar dados e de construir cenários, pelo que o país pode ter aqui a felicidade de ter uma onda positiva em que pode alavancar e dar um salto quântico do ponto de vista económico e do standard de vida das pessoas. Era o que eu gostava que acontecesse.
Preocupa-me a falta de mão-de-obra, mas acho que isso são sempre questões nas quais as empresas podem trabalhar. Preocupa-me mais a questão demográfica porque, se realmente as perspetivas se concretizarem e a população de Portugal não crescer, a população ativa vai reduzir drasticamente e sabemos que a população não se repõe rapidamente, pelo menos se não for com recurso à imigração.
Não vejo o país preparado nem para receber a imigração de forma estruturada, nem com políticas de natalidade que vão criar um grande impacto na demografia. Mais do que mão-de-obra, não vai haver mercado se não houver pessoas. É esse o risco que corremos: deixar de ter representatividade como mercado.
Como têm sido tratadas as médias ou as grandes empresas?
ARO — Nós, enquanto empresa, já estamos com uma dimensão em que somos menos abrangidos pelos apoios que surgem, que são dedicados sobretudo a pequenas e médias empresas.
Deve haver apoio às empresas grandes. A OLI é uma empresa relativamente grande para a média nacional, mas que se projeta internacionalmente e que luta com empresas que faturam dez vezes mais e nem por isso deixam de ter apoios nos países em que estão, alguns deles na União Europeia. Aquilo que defendo é que haja apoios específicos e concretos para as grandes empresas e que, em contrapartida, as grandes empresas tenham a responsabilidade de arrastar consigo as pequenas empresas que estão à sua volta, em questões de produtividade e de sustentabilidade.
As empresas devem, independentemente de serem grandes empresas, receber apoios enquadrados com aquilo que é a sua realidade e depois retribuir, responsabilizando-se por fazer crescer as empresas à sua volta.
Não podemos ter a ilusão de que as empresas grandes se vão manter nas cadeias de abastecimento internacionais, se os seus pequenos fornecedores não conseguirem reportar indicadores de sustentabilidade porque vamos ser, à partida, todos penalizados na cadeia de abastecimento por essa falta de competência a montante.
É tudo uma questão de relativizarmos a dimensão do país e a dimensão das empresas… Se transportarmos a nossa realidade para outro país, a OLI deixa de ser uma empresa relativamente grande e passa a ser uma empresa de uma dimensão plenamente normal.
Se nós olharmos, nem é para os 80-20, é para os 95%-5%, as pequenas empresas são uma fatia muito pequena e, portanto, caem fora de determinados apoios.
Por outro lado, quando se fala de algum tipo de impostos ou mesmo da contribuição para o PIB [Produto Interno Bruto], também há um contributo assimétrico das grandes empresas. Trata-se de olhar para este quadro e perceber da melhor forma como é que isto pode ser harmonizado em benefício de todos.