Portugal envelhecido

Em apenas dois municípios dos 308 do país há mais jovens do que idosos.

No Dia Mundial da População, a Pordata – a base de dados estatísticos da Fundação Francisco Manuel dos Santos, apresentou um conjunto de dados que permite traçar o perfil atual da população residente em Portugal.

Quantos somos e qual tem sido a evolução do número de residentes no país, como mudaram as famílias, onde nos posicionamos na União Europeia (UE), ou qual tem sido a evolução etária da população, são alguns dos tópicos que estes dados analisam.

Desde logo, Portugal regista atualmente o maior número de residentes das últimas décadas: 10,6 milhões. O saldo populacional tem sido sempre positivo nos últimos cinco anos, reflexo de um aumento da imigração.

No entanto, e lançando mais uma luz sobre um dos temas mais desafiantes para o futuro do país, o envelhecimento demográfico, este retrato demonstra que Portugal ultrapassou as 3 mil pessoas com 100 anos. Incluindo outros escalões etários, Portugal tem mais de 2,5 milhões de pessoas com 65 anos ou mais. De um modo geral, desde 2019, a população idosa tem crescido mais de 2% ao ano.

Com efeito, a população em Portugal está a crescer desde 2019, sendo que, no último ano, aumentou 1%. Há mais 109 mil pessoas do que em 2022.
Somos agora 10.578,2 milhões de residentes, o maior número das últimas cinco décadas.

Há mais mulheres do que homens em Portugal e, a partir do grupo etário dos 35 aos 39 anos, as mulheres estão em maioria. Este valor acentua-se quanto maior for a faixa etária: 2 em cada 3 pessoas com mais de 84 anos é mulher.
Apesar de ser o segundo ano consecutivo em que os nascimentos aumentam, Portugal tem um saldo natural negativo desde 2009, ou seja, morrem mais pessoas do que as que nascem.

Desde 2019, o saldo populacional (que inclui tanto os nascimentos e mortes, como os emigrantes e imigrantes) tem sido positivo devido à imigração. Os saldos migratórios quase duplicaram nos dois últimos anos.

Se olharmos do ponto de vista do município, esta realidade ganha ainda mais expressão: 252 municípios têm um saldo populacional positivo, mas só 17 dos 308 apresentam um saldo natural positivo.

Apesar de a idade média da mãe ao primeiro filho apresentar uma ligeira tendência de decréscimo, verificou-se uma diminuição dos casais com filhos (-6,7%) e um aumento do número de casais sem filhos – são quase mais 50 mil casais sem filhos do que em 2022.

Já as famílias monoparentais – em que um dos pais vive sozinho com o(s) filho(s), e as famílias unipessoais (compostas por uma só pessoa) tiveram aumentos de 22% e 28%, respetivamente.

A população em Portugal está a envelhecer. Para além do aumento da idade mediana de 38,5 para 47 anos em duas décadas, a população idosa (65 anos ou +) tem crescido, genericamente, mais de 2% ao ano, desde 2019.

Atualmente, são mais de 2,5 milhões de pessoas idosas, entre elas, mais de 3 mil pessoas centenárias.

O envelhecimento verifica-se ainda no número de indivíduos em idade ativa por idoso: há 2,6 ativos por cada idoso. Há 20 anos, eram 4 por cada idoso.
Portugal é, a par da Itália, o país da União Europeia com maior percentagem de população idosa, com quase o dobro dos idosos face aos jovens: são 186 idosos por cada 100 jovens.

Analisando numa perspetiva regional, é ainda mais evidente o envelhecimento: em apenas dois municípios dos 308 do país há mais jovens do que idosos, e ficam ambos na Região Autónoma dos Açores (Ribeira Grande e Lagoa). Há 10 anos havia 36 municípios portugueses com mais jovens por idosos.

O nosso país é o 2º da UE com maior índice de envelhecimento e o 4º país do Mundo com maior proporção de população idosa. Conclui-se que, hoje, Portugal tem mais casais sem filhos, mais famílias monoparentais e mais famílias unipessoais.

Estes dados permitem igualmente perceber que os portugueses estão também mais sozinhos: mais de um milhão de pessoas vivem sós e, destas, mais de metade são idosos. Somos o 4º país da UE com maior percentagem de idosos a viver sozinhos no total de pessoas que vivem nesta condição.

Presidente do Conselho de Administração da Fundação Francisco Manuel dos Santos