Uma resposta a sustentar o futuro do vinho

Há modelos emergentes que apontam para uma maior colaboração entre as empresas.

No mundo do vinho, a região de Bordéus é paradigmática: os produtores, o governo e as autoridades regionais assinaram um acordo para arrancar 9% das plantações, principalmente nas vinhas abandonadas por falta de rentabilidade ou que correm o risco de ficar nessa situação, dada a dificuldade dos seus proprietários em fazer face, “material e economicamente, ao trabalho nas suas vinhas”, detalhou o Ministério da Agricultura francês. Refira-se que esta medida poderá vir a ser sugerida na região do Douro.

Em contraste com esta instabilidade, há modelos emergentes que melhoram a eficiência e a eficácia, que apontam para uma maior colaboração entre as empresas, para o desenvolvimento da coopetição, com cooperação em fases não diferenciadoras na ‘marca’, e posterior concorrência. Cooperação no aproveitamento de capacidades disponíveis no setor, em que o caso mais chamativo é o elevado número de adegas, algumas de luxo, com pouca utilização e que representam custos adicionais, assim como linhas de engarrafamento e, mesmo, capacidade de armazenamento para estas elevadas produções das últimas vindimas, incluindo a de 2023.

E a competição será contra os produtores de outros países e não contra os colegas da região. Neste campo, há dois casos portugueses bem conhecidos, na generalidade , que mereceriam ser melhor estudados para poderem ser repetidos com significativa criação de valor: o primeiro serão Os Lavradores de Feitoria, uma empresa do século 21 que reúne 15 produtores com 20 quintas e que se apresentam no mercado com um conjunto muito elaborado de uma dúzia de marcas, bem segmentadas, com alguns produtos especiais de preço elevado, e discutem com a grande distribuição vendendo apenas uma percentagem reduzida nesse vetor.

Outro caso semelhante são Os Douro Boys que, sobre uma estratégia de marketing desenhada por uma especialista internacional a viver em Portugal, criaram esta marca que celebrou 20 anos de vida em 2023, englobando 5 produtores da região do Douro, e que obtiveram aumentos de vendas muito significativos muito para além do que se poderia considerar acessível a esses produtores se atuassem independentemente, sem essa Marca que tem valorização própria. Por certo, uma marca que está a sofrer a crise de adolescência, com os desenvolvimentos diferenciados dos vários ‘Boys’, já adultos bem crescidos.

Numa visão integrada destas realidades e perceções parece muito promissor a consideração de todas as atividades do setor, do cluster, da indústria como um ecossistema empresarial, uma rede dinâmica e consolidada de agentes com relevância económica que atuam num espaço de referência integrando toda a cadeia de valor, desde o produtor até ao consumidor final, assim como os serviços bancários e os seguros que, no setor agroalimentar, têm uma relevância crescente.

Articulando-se os produtores agrícolas com as cadeias de distribuição, as empresas da logística, do HoReCa e turismo, assim como os fornecedores de agroquímicos, de maquinaria agrícola e de outros serviços, todos voltados para o consumidor final que é quem, verdadeiramente, paga a cada um deles. Esta articulação exemplifica-se de modo expressivo no caso do enoturismo, uma componente crescente das receitas dos produtores de vinho, pela necessidade de a pura atividade económica se ter de articular, com benefícios comuns imediatos, com as autarquias, com as iniciativas culturais e, atualmente, também com os serviços de imigração e as organizações do setor social.


Todos estes agentes têm de pensar que a sua atividade parte do cliente – o que é que ele pretende, o que é necessário para ele, o que o faz feliz – e termina na experiência de consumo.

Ora esta consideração exige que cada empresário, cada gestor, volte a pensar naquilo que é mesmo o seu papel, qual o propósito da sua empresa, o que pressupõe reflexão, tempo de paragem, conversa com as equipas, formação, algo que certamente tem estado menos presente no seu quotidiano, absorvido por ativismo tendencialmente stressante.

Nessas paragens programadas descobre-se a possibilidade de delegação de tarefas que desenvolvem colaboradores, tarefas repetitivas que se automatizam ou também, que são puro desperdício e se eliminam, poupando recursos, eliminando gargalos. Ou a possibilidade de partilhar recursos ou fornecedores com concorrentes próximos, ou a possibilidade de integrar o seu produto numa oferta mais alargada de outra empresa, com vantagens mútuas, etc.

Sublinhe-se que, entre as paragens programadas, as mais eficazes são as que proporcionam discussão entre pares de casos de estudo, o conhecido método de Harvard, como as que a AESE está a organizar em colaboração com as CVR, Comissões Vitivinícolas Regionais e os programas GAIN – Direção de Empresas da Cadeia Agroalimentar, mas também os cursos promovidos pela Católica – Strategic Agribusiness Management, pela Nova, Agribusiness, Desenvolvimento Sustentável no setor agrícola, pela Universidade de Évora e por múltiplos Institutos Politécnicos ou Instituições públicas.

Professor Emérito da AESE