Nuno Terras Marques: “Portugal devia apostar muito mais na indústria”

Nuno Terras Marques, CEO do grupo Visabeira, partilha a sua visão para o país em 2043.

Como imagina o país daqui a 20 anos?
NTM — Aquilo que eu gostaria era que Portugal, definitivamente, se afirmasse, deixasse de ter pena de si próprio, deixasse de falar que somos pequenos.
Gostava que Portugal aproveitasse as suas verdadeiras forças e valências. A sua principal força é o nosso talento, são as nossas pessoas. De tudo o que vemos lá fora, e eu acabo por passar muito tempo lá fora, não vejo recursos, não vejo talento melhor que o nosso.
Não é só a capacidade de flexibilidade que temos (que é uma das vantagens), mas competência técnica, know-how e capacidade de gestão nas diferentes áreas.
Enquanto país, temos de apostar em crescermos de uma forma muito mais sólida, mais robusta, mas não o fazermos só através do turismo. Devemos apostar muito mais na indústria.
Nós, hoje, já temos indústria, mas temos uma indústria em que se contam pelos dedos de uma mão as empresas como a Vista Alegre – que têm marca, que têm valor acrescentado, que criam valor e que têm notoriedade lá fora. Temos muita indústria competente, altamente eficiente, mas cujo valor acrescentado fica na esmagadora maioria lá fora, em que muitas vezes produzimos sem marca para alguém.
Em Portugal, faz-se um combate demasiado forte às grandes empresas. Parece que é pecado ser uma grande empresa ou é pecado ganhar dinheiro. As grandes empresas devem ser reguladas como as pequenas e como as médias; essa regulação é saudável e ótima para o bom desenrolar daquilo que é a nossa economia, mas a escala é uma necessidade.
A Visabeira, hoje, com a escala que tem, consegue continuamente investir mais do que aquilo que fazia quando não tinha esta escala e consegue remunerar o seu talento e os seus quadros de uma forma melhor do que fazia há uns anos. As empresas grandes, está provado, conseguem investir de forma mais consistente na inovação, no desenvolvimento de novos produtos, de novos serviços e na remuneração e no investimento da formação do seu próprio talento.
Gostaria de ver um Portugal mais preocupado com a sua essência e menos preocupado com a sua aparência.

— Esta questão do número baixo de empresas grandes de base portuguesa poderá acontecer por algum estigma ideológico ?
NTM — Admito que sim. Qual é o estigma? O facto é que existe um claro combate às grandes empresas. Parece que é pecado sermos uma grande empresa. Se é ideológico ou não, não me compete a mim comentar.
É um facto que isso existe e é um facto que não é o caminho certo. Acho que é inibidor de um Portugal mais forte porque um Portugal mais forte é um Portugal que tem empresas mais fortes. A economia cresce com as empresas fortes a crescerem. Não é com o Estado a substituir-se às empresas. O Estado não tem de substituir-se às empresas; o Estado tem outras funções.