“Estamos num momento crítico”. Reciclagem de embalagens em risco de incumprimento em 2025

“Se a tendência dos últimos anos se mantiver, Portugal não vai cumprir a meta de 2025 de reciclagem de embalagens”, alerta Sociedade Ponto Verde.

“Se a tendência verificada nos últimos anos se mantiver, Portugal não vai conseguir alcançar a nova meta definida para 2025 para o fluxo de resíduos urbanos, de embalagens”. É este o alerta que resulta da análise da Sociedade Ponto Verde (SPV) aos dados anuais do Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagem (SIGRE).
Num momento em que soam os alarmes em relação à crise climática e crescem as pressões da União Europeia para o cumprimento das metas ambientais, os esforços de Portugal mantêm-se aquém do esperado.
O objetivo do país, que é comum a todos os Estados-Membros, passa por estar a reciclar, daqui a um ano, pelo menos 65% das embalagens que são colocadas no mercado. Em 2023, essa taxa manteve-se nos 60%, ou seja, significa praticamente uma estagnação.
Apesar de os resultados cumprirem as atuais metas da reciclagem de embalagens, se não houver um aumento significativo no ritmo de crescimento, em 2025, estaremos em incumprimento.

Reciclagem de vidro e alumínio suscita preocupações

De acordo com a SPV, o papel/cartão, com 148.630 toneladas recolhidas (+4%) continua a ser um dos materiais com melhor desempenho, mas há dois que suscitam preocupações: o alumínio e o vidro. O primeiro aumentou apenas 2%, o que se traduz em 1.947 toneladas encaminhadas para reciclagem, carecendo de um aumento significativo no ritmo de crescimento.
O vidro continua aquém da meta e a recolha mostra sinais de quebra. No último ano foram depositadas 212.593 toneladas destas embalagens, ou seja, menos 6.264 toneladas (-3%).

Apostar em sistemas de deposição e mais reciclagem


Para tentar cumprir as metas até ao próximo ano, a SPV deixa algumas sugestões:
– Mais separação das embalagens (de vidro, em particular) pelos cidadãos e um maior nível de serviço por parte dos operadores municipais na recolha.
– Continuar a apostar em sistemas de deposição de embalagens de vidro mais eficientes, como o baldeamento assistido.
– Regras claras e uniformizadas, mecanismos que promovam a transparência e eficiência do sistema, começando por um modelo de financiamento justo.
– Reforçar colaboração e complementaridade entre todas as partes interessadas na cadeia de valor, sobretudo das entidades gestoras.
“Portugal está num momento crítico, no que diz respeito à gestão dos resíduos urbanos e, em particular, à reciclagem de embalagens, que é o único fluxo a cumprir com as metas e que deveria ser exemplo para os restantes”, alerta Ana Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde.

Ecoceno: reutilizável, com menos desperdício

Para evitar o desperdício e os prejuízos da não reciclagem, uma startup portuguesa criou um modelo de reutilização de embalagens. A Ecoceno foi criada a partir da empresa Embal, a principal fábrica de embalagens descartáveis em alumínio para o mercado de takeaway em Portugal, e conta com os apoios da Sociedade Ponto Verde e do Ministério do Ambiente, através do Fundo Ambiental.


Desde 1 de julho de 2022, as embalagens de utilização única adquiridas em refeições prontas a consumir têm uma taxa de 0,30€, mas, com o serviço de devolução de embalagens da Ecoceno, deixa de haver custo para o consumidor e para o ambiente.
“Já para o operador, custa o mesmo que utilizar embalagens descartáveis: a Ecoceno cobra uma fee por utilização, isto é, cerca de 10-20 cêntimos por cada entrega de embalagem reutilizável”, explica o fundador da Ecoceno, Afonso Vieira.


“A Ecoceno está já a trabalhar com vários dos grandes grupos alimentares em Portugal, nomeadamente, a Jerónimo Martins, a Eurest, o Grupo Trivalor, a Poke House, entre outros.”
Para ter acesso às embalagens, basta fazer o registo na aplicação da Ecoceno, mostrar o código QR no restaurante ou introduzir o código alfanumérico nas apps de entrega. No final, basta entregar a embalagem num dos vários pontos de devolução disponíveis num prazo de 14 dias.


Segundo Afonso Vieira, a “proposta de valor da Ecoceno passa pela rastreabilidade e pela mitigação do risco de não devolução das embalagente”, o que acabaria por pôr em causa o objetivo de reutilização e redução do desperdício.
“Atualmente, a Ecoceno já trabalha com todo o tipo de embalagens em contexto alimentar (desde copos de café expresso a embalagens para pizza). A médio prazo, a Ecoceno já está a trabalhar para implementar a sua solução em produtos de supermercado (queijos, shampoo, etc). A longo prazo, qualquer tipo de embalagem pode estar dentro do sistema”, afirma o fundador da startup.