Ana Mendes Godinho: “Portugal não pode viver com uma gestão sentimental do dia-a-dia”

A ex-ministra do Trabalho e Segurança Social de António Costa afirma que “é fundamental criar uma estratégia do país com visão e ambição”. E elogia os debates no primeiro ano do “Portugal Amanhã”

Como antecipa estes quatro meses até ao final do ano a nível económico do paíse e da sua atividade em particular?
Ana Mendes Godinho – Os próximos meses são desafiantes e determinantes. É fundamental existir um rumo estratégico do país com visão e ambição, que promova confiança dos Cidadãos e das empresas, numa fase tão incerta.

No momento que vivemos, Portugal não pode viver com uma gestão sentimental do dia-a-dia baseada em remoques permanentes e injustificados contra o passado e medidas populistas para gestão de votos.

Se não se mudar esta direção, corremos o risco sério de desperdiçar, numa rota vertiginosa, a capacidade que tivemos, como país, de atrair investimento, de aumentar historicamente o emprego e de garantir equilíbrio orçamental. Os indicadores quanto à evolução da taxa de desemprego começam a dar alguns sinais de preocupação que traduzem já a incerteza das empresas para os próximos tempos.

O papel do Governo pode ser determinante para inverter esta situação, mas para isso tem de conseguir assumir uma visão estratégica, nomeadamente quanto à área do emprego – como fizemos no passado recente – e não com meros paliativos e incentivos à eternização de estágios.

É importante olhar para a história recente e verificar que a evolução do emprego e dos salários (incluindo o salário mínimo nacional) foi o fator-chave para o crescimento da economia portuguesa.

Não podemos desperdiçar esta capacidade coletiva que tivemos.

Enquanto Deputada na Assembleia da República, continuarei a assumir como prioridade a aprovação de medidas estratégicas que não se fiquem pela espuma dos dias.

Se o Orçamento de Estado para 2025, que será apresentado em outubro, não passar em novembro, deve haver novas eleições? Que outra solução deveria ser encontrada, nesse cenário?
AMG – A existência de um OE adequado aos desafios de 2025 é fundamental para a implementação de opções estratégicas e não gestão a curto prazo. Se for esta realmente a intenção do Governo, tem de mudar de postura e negociar.

O que mais apreciou neste primeiro ano do “Portugal Amanhã”?
AMG – Destaco o espaço de debate Sim ou Não, que estimula discussão aberta e transparente e informação, contrariando espaços fechados e monólogos facciosos que agravam extremismos.