António Soares Franco: “Daqui a 20 anos gostava de ver um país que acarinhasse mais as empresas”

António e Francisco Soares Franco, CEOs do Grupo José Maria da Fonseca, deixam a sua visão para o país em 2043.

Qual é a vossa visão para o país daqui a 20 anos?
AMSF — Gostava que fosse um país onde as pessoas tivessem melhor qualidade de vida e, para isso, é muito importante criar riqueza neste país. Para o bem ou para o mal, quem cria riqueza nos países são as empresas, não é o Estado. Temos de dar espaço às empresas, apoiá-las nos seus esforços de internacionalização, na inovação e no aumento de produtividade.
Daqui a 20 anos gostava de ver um país que acarinhasse as empresas, os empresários e os negócios. Gostava que o Estado tivesse um peso menor na economia e que deixasse as empresas florescerem, com novos projetos e a inovarem, e com isso criar mais emprego, conseguir remunerar melhore que as pessoas tivessem melhores condições de vida.
Ao mesmo tempo, que o Estado tivesse uma maior e melhor intervenção ao nível social. No fundo, os serviços que nós temos, quer ao nível da educação, quer ao nível da saúde, da defesa, são assegurados pelo Estado. É preciso que os faça cada vez com mais qualidade.

FSF — Vejo Portugal num caminho muito complicado porque acho que faltam pessoas com qualidade à frente do nosso país. Temos esta vertente em que acreditamos que os privados conseguem fazer melhor com os serviços públicos, porque têm um mindset diferente de gestão. Acreditamos que os serviços públicos devem ter muita qualidade, mas devem ser aqueles essenciais. O resto deve ser, sim, gratuito para as pessoas, mas assegurados com uma gestão capaz de melhorar.
Vou dar um exemplo , fizemos uma central fotovoltaica para autoconsumo e estivemos dois anos e meio à espera de uma autorização para pôr umas estacas dentro da terra. Num país em que falamos de sustentabilidade, não se compreende a burocracia deste Estado e a burocracia pela qual as empresas têm de passar.
O José Maria da Fonseca não depende do Estado para nada. Depende do Estado para pagar impostos e para cumprir as responsabilidades. Mas não precisamos do Estado, não é nosso cliente, não temos qualquer interação, não temos qualquer subsídio.
Isto a nós criou-nos muita entropia. Muitos investimentos que queremos fazer, ou é por isto ou por aquilo ou por aqueloutro, ficam todos parados.
Se acho que as coisas estão no bom caminho? Digamos que noto muita instabilidade, mas felizmente também dependemos muito do mercado externo. Estamos na União Europeia, o que é bom. Isso dá-nos alguma segurança para continuar a investir, mas neste momento estamos a investir lá fora.

AMSF — Daqui a 20 anos vamos ter de ser uma empresa já no caminho de uma multinacional. Criámos essa distribuidora em Portugal e queremos estar cada vez mais presentes nos mercados externos. Vimos claramente que a distribuidora foi um motor gigantesco para a nossa empresa e estar mais próximo dos mercados, eventualmente ter estruturas de distribuição lá fora, quem diria, um dia no futuro, ter alguma produção de vinho também lá fora.
Achamos que a empresa vai estar muito mais internacional, ou quase multinacional, daqui a 20 anos, para que a próxima geração também tenha uma empresa com excelente saúde, para poderem continuar a perpetuar a empresa no futuro.

FSF — É importante deixar uma mensagem: temos uma responsabilidade que herdámos das gerações anteriores, estamos cá há 190 anos, e temos a responsabilidade de projetar o José Maria da Fonseca por mais 190 anos. E, portanto, 2043 há-de ser… um amanhã.