O metal na economia da defesa

O investimento em defesa é indispensável e mesmo patriótico

As empresas do sector metalúrgico e metalomecânico português, habitualmente designadas de forma genérica como o Metal Portugal, têm sido absolutamente essenciais para o crescimento económico do país.

É certo que, no que se refere ao país como um todo, o crescimento de médio prazo tem sido praticamente residual, não dando aso a grande entusiasmo. Deve, no entanto, sublinhar-se que, se não fosse o desempenho do Metal Portugal, a performance da economia nacional teria sido seguramente muito menos interessante. Pelo que, apesar de o crescimento ter sido globalmente anémico, não pode ainda assim deixar de enfatizar-se a influência muito positiva do Metal Portugal para a obtenção dos números atingidos.

O peso deste sector na generalidade dos indicadores económicos tem sido digno do maior registo e altamente estimulante para todos os que de algum modo trabalham nas suas empresas e nas respectivas instituições de suporte. Nesse âmbito, tem sido notável, nomeadamente, o crescimento do emprego qualificado, a evolução dos salários médios e a tendência fortemente crescente do valor acrescentado bruto.

Para além disso, é público e notório o aumento muito significativo das exportações. Ao longo da última década, as vendas do Metal Portugal ao exterior mais do que duplicaram, tendo registado em 2023 um valor superior a 24.000 milhões de euros.

Este crescimento decorre da enorme qualidade da oferta, obviamente, mas também, do ponto de vista instrumental, de competências específicas altamente diferenciadoras. Esta indústria destaca-se pela enorme versatilidade, pela significativa flexibilidade, pela resposta ágil e fluente às especificidades dos clientes, pela capacidade de produção de pequenas séries e ainda pela forma como está habilitada a trabalhar em nichos. Em consequência, muitas das empresas deste sector são líderes ibéricos, europeus ou mesmo mundiais em determinados segmentos.

Sem prejuízo do enorme contributo das grandes empresas nesse sentido, também é certo que a responsabilidade de uma parte significativa do sucesso do Metal Portugal no exterior é imputável a um conjunto de pequenas e médias empresas do segmento do Subcontracting & Engineering, as quais, pelo seu enorme mérito, são fornecedoras de clientes de referência a nível mundial em clusters altamente sofisticados como o aeroespacial, o automóvel, o ferroviário ou o da energia. Trata-se de empresas que prestam serviços e produzem peças técnicas de elevado valor acrescentado com uma relação de qualidade/preço quase inigualável e com uma substancial capacidade de adaptação às necessidades dos clientes.

Nos últimos anos, a Europa tem vindo a ser surpreendida com a emergência de guerras dentro das suas fronteiras e/ou nas suas imediações. A agressão russa à Ucrânia e os conflitos na Faixa de Gaza e no Canal do Suez obrigam definitivamente o ocidente a repensar o seu posicionamento em termos geoestratégicos.

Os cidadãos e as nações europeias presumiram de forma pueril que a paz em que vivemos quase ininterruptamente desde o final de Segunda Guerra Mundial seria um dado adquirido e irreversível. Convenceram-se para além disso, muito ingenuamente, de que seria possível manter-se a paz sem investimento na defesa e nas forças armadas. Um enorme erro, como se está a ver de forma clara.

Apesar de tudo, actualmente, a Comissão Europeia, os governos de alguns estados-membros e franjas crescentes da sociedade civil europeia estão a perceber que a Europa e o seu modo de vida estão sob ameaças muito inquietantes. As pretensões hegemónicas da Rússia são nesse contexto especialmente preocupantes. Face às ameaças, as instituições europeias e os governos nacionais estão a tentar capacitar a Europa de instrumentos de auto-protecção, com a convicção de que, hoje em dia, o investimento em defesa é absolutamente indispensável e mesmo patriótico.

É precisamente nesse contexto que se impõe uma atenção muito especial por parte do governo português às competências do Metal Portugal em geral e das empresas de Subcontracting & Engineering em particular. Com efeito, da mesma forma com se dotaram de características diferenciadoras que lhes permitiram triunfar em clusters altamente exigentes, estas empresas portuguesas são suficientemente versáteis, flexíveis e ágeis para se assumirem como fornecedoras de referência no domínio da economia da defesa.

Inclusivamente, algumas dessas empresas estão já licenciadas ou em vias de o ser para fornecerem as forças armadas de muitos países ocidentais. São empresas que podem produzir componentes para todo o tipo de veículos de combate, peças para armas de pequena e média dimensão e até munições.

Em alguns casos, há já negócios interessantes concretizados, sendo para além disso certo que a margem potencial de crescimento é enorme.
Portugal não pode perder este comboio, devendo o seu governo estar atento, em conjunto com as empresas nacionais, às oportunidades crescentes de negócios neste domínio.

Por um lado, trata-se de um investimento estratégico, susceptível de criar valor acrescentado, desenvolver tecnologia e gerar postos de trabalho de maior densidade tecnológica. Por outro lado, conforme acima referido, trata-se de uma obrigação patriótica.

Se queremos ajudar a manter a paz na Europa, o primeiro esforço passa inevitavelmente por contribuirmos para o reforço das forças de defesa europeias.

Vice-presidente executivo da AIMMAP