Contar com as farmácias é dar mais saúde aos portugueses

Investir na utilização adequada de medicamentos deve ser prioridade do SNS.

Um pouco por todo o mundo, temos visto os diferentes países a recorrer mais à capacidade instalada das farmácias para responder às necessidades das pessoas e aos desafios de prevenção, tratamento e controlo da doença.
Esta é uma realidade que resulta do reconhecimento de que a qualidade técnico-científica dos profissionais que integram as equipas das farmácias deve ser colocada ao serviço do país, articulada com as demais respostas de saúde proporcionadas aos cidadãos.
Em Portugal, a Saúde dos cidadãos tem contado mais com as farmácias, e as farmácias, como sempre o fizeram, têm respondido com responsabilidade às missões que lhes são confiadas.
A intervenção ativa na campanha de vacinação sazonal que se encontra a decorrer, a renovação da terapêutica para as pessoas que vivem com doença crónica, a dispensa em proximidade de medicamentos hospitalares e o papel essencial na testagem rápida durante a pandemia da COVID-19, são apenas alguns dos exemplos recentes de como as equipas das farmácias contribuem para os resultados em saúde.
Considero que esta é uma forma virtuosa de pensar as políticas de saúde.
Ultrapassar os desafios da pressão sobre os cuidados de saúde que atualmente vivemos implica ter a coragem de estabelecer as sinergias certas entre os diferentes agentes da saúde, proporcionando uma resposta mais integradora e eficaz para uma população envelhecida e progressivamente com maior carga de doença.
E é precisamente esta a postura que esperamos dos decisores políticos, em particular dos países mais desenvolvidos, que ainda esta semana em Paris assinaram a declaração da OCDE – Building Better Policies for More Resiliente Health Systems, e se comprometeram com o desenho de políticas que tornem os sistemas de saúde mais resilientes.
A mudança de paradigma para cuidados centrados nas pessoas, promotores da autonomia individual na gestão da sua jornada de saúde, assume um papel preponderante na atual organização dos sistemas de saúde.
Diariamente, as Farmácias Portuguesas são visitadas por cerca de meio milhão de pessoas. Os elevados níveis de satisfação e confiança dos portugueses pelos serviços prestados pelas farmácias, devem ser tidos em conta na definição dessas políticas.
Distribuídas de forma equilibrada por todo o país, continuam a ser, em muitas vilas e aldeias, o único recurso de saúde de que as pessoas dispõem e onde já encerraram diversos serviços, sejam escolas, balcões de serviço postal e outras unidades de saúde. Pela sua acessibilidade, distribuição geográfica e horário alargado, a farmácia é frequentemente, o primeiro – e, em muitas zonas do território nacional, o único – ponto de contacto com o sistema de saúde.
Investir na utilização responsável e adequada de medicamentos, por exemplo através da contratualização do acompanhamento farmacêutico nas farmácias das pessoas que vivem com doença crónica, permitindo a otimização da efetividade e segurança das terapêuticas instituídas, deve constituir uma prioridade do SNS. A intervenção neste contexto permitiria reduzir as despesas decorrentes de falhas na adesão à terapêutica, que originam casos de hospitalização ou intervenções desnecessárias, como consultas médicas adicionais. Assim foi comprovado em estudos realizados no Reino Unido, associados a um programa de acompanhamento de pessoas que iniciam uma nova terapêutica para uma doença crónica. A poupança decorrente da intervenção farmacêutica largamente supera a remuneração atribuída às farmácias, comprovando o custo-efetividade do serviço contratualizado pelo National Health Service.
É essencial que as farmácias possam também complementar a resposta da linha SNS24, intervindo na referenciação de pessoas para os níveis adequados de cuidados, quando determinados problemas de saúde não são passíveis de resolução na própria farmácia.
Nos últimos tempos demos passos importantes para permitir às farmácias que possam aceder à informação de saúde das pessoas, mediante o seu consentimento, e comunicar eletronicamente com os demais profissionais que intervêm na jornada de saúde da pessoa.
Mas precisamos de aprofundar e acelerar o desenvolvimento destas ferramentas. É crucial utilizar o substancial financiamento do PRR para a digitalização da saúde, disponibilizando às farmácias também a capacidade de consulta e registo no registo de saúde eletrónico, para além de estabelecer canais de comunicação partilhada entre os diferentes profissionais.
Recentemente as farmácias, através do Livro Branco das Farmácias Portuguesas – que convido à leitura – elencaram o conjunto de áreas que consideram prioritárias para o desenvolvimento da sua intervenção na Saúde em Portugal. Este exercício, construído também em colaboração com entidades nacionais e internacionais, entre as quais, as autoridades de saúde, municípios, academia, representantes das pessoas que vivem com doença e outros prestadores de saúde, tem propostas ambiciosas para inovar a forma de como podemos fazer mais pela Saúde dos portugueses.
Estamos por isso empenhados em continuar a trabalhar, lado a lado com o SNS e todos os profissionais, para ir ao encontro dos objetivos de saúde traçados para o país. Assim exista a disponibilidade e vontade para continuar a trilhar este caminho em torno do objetivo comum – acrescentar anos de vida saudável à população portuguesa.