Apostar no sucesso tem um preço elevado

Sucesso implica optar, decidir e recusar consensos. E exige incentivos, prémios, valorização do mérito.

Sucesso é um dos substantivos mais vulgares da narrativa nacional. É usado para descrever resultados positivos regulares (“o teu discurso foi um sucesso”), é abusado para demonstrar processualismos menores (“fui bem sucedido a reparar o lavatório”) e chega mesmo a ser adjetivado para efeitos comportamentais (“este tipo vai fazer sucesso”).

Sucesso é um entre os muitos substantivos que banalizámos. E dado que não é fácil de pronunciar e ainda mais difícil de abreviar, eu diria que estará condenado à prateleira dos termos em vias de extinção perante os novos algoritmos dominantes da simplificação linguística contemporânea.

Como termo técnico e empresarial, o SUCESSO continua a ter futuro. Representa uma ambição, define uma direção, implica um foco e, sobretudo, assume a coragem do resultado. Todas estas componentes do mérito não são, reconheça-se, totalmente pacíficas. A ambição parece contender com a perspetiva da igualdade indiferenciada, a direção parece ofender a diversidade desejável, o foco parece limitar os múltiplos interesses a preservar e o resultado… esse então ofende o caráter eminentemente social da nova existência.

É por isso que quando alguém empreende, definindo objetivos claros, juntando meios para os perseguir, assumindo o risco do fracasso e comprometendo-se com o resultado, esse empreendedor, esse empreendimento, é uma celebração ao sucesso. Não porque seja meio caminho para o atingir, como diz o povo, mas porque é condição necessária (ainda que não suficiente) para atingir qualquer propósito. Era Disraeli que dizia que “o segredo do sucesso é a constância do propósito”. Porém, o sucesso comporta um custo elevado a pagar. Talvez até um preço demasiado elevado. O preço que levou Salvador Dali a dizer que “o termómetro do sucesso é apenas a inveja dos descontentes”.

Primeiro, porque Sucesso implica optar, decidir, escolher. E isso implica recusar consensos, assumir divergências, exprimir convicções. Segundo, porque o Sucesso exige incentivos, prémios, valorização do mérito. E isso impõe diferenças assumidas, desigualdades à chegada, competitividade transparente. Terceiro, porque o Sucesso implica medições, resultados, performance. E isso evidencia debilidades, deméritos e fracassos.

Finalmente, Sucesso implica riscos assumidos, resistência e persistência. E esses valores contrariam a passividade, o facilitismo e a cultura da inércia. Mas o mais difícil do sucesso é que ele não depende das condições necessárias, nem do esforço e dedicação que a elas dedicamos hoje. Dependem do resultado e este, muitas vezes, só é demonstrado amanhã.
E esse é um preço tremendamente elevado a pagar pelo Sucesso. Basta recordar que Portugal – no seu empreendimento coletivo mais bem sucedido (os descobrimentos) ao preparar, escolher e executar a sua prioridade na descoberta do caminho marítimo para as Índias -, acabou por desperdiçar a descoberta, por simples acaso, das Américas. E, hoje, celebra-se mais o equívoco de Colombo que o tremendo sucesso planeado de D. João II que, por sinal, morreu antes de o atingir.

É por isso que ganha mais oportunidade a celebração dos que fazem, dos que produzem, dos que acreditam e realizam. À sua maneira, também eles assumem os riscos do desconhecido. Também eles se dedicam à perseverança da execução. É por isso que este projeto editorial é mais importante do que parece. Porque é uma aposta no Sucesso contra a inércia e o conformismo. E, se é verdade que o Sucesso sempre tem um preço, também é verdade que investir no Sucesso já implica coragem e ousadia. E a coragem de hoje, a ousadia do presente, é que ditará o Portugal Amanhã.