Portugal à Prova. Chão do Rio: um refúgio no meio da serra para conectar com a natureza

Piscina biológica, casas com vista para a Serra da Estrela e animais de quinta. O Chão do Rio, premiado pela AHRESP na categoria de sustentabilidade, oferece a experiência de viver numa aldeia. Uma tendência à prova.

No sopé da Serra da Estrela há um refúgio no meio da natureza, onde pode ter a experiência de viver numa aldeia, No Chão do Rio – Turismo de Aldeia, localizado na aldeia de Travancinha, a 12 km de Seia e Oliveira do Hospital, há oito hectares para explorar, casas em pedra e telhados de colmo, uma piscina biológica, animais na quinta, pequeno almoço com produtos biológicos e até um pastor de rebanho.

Como surgiu a ideia de criar o Chão do Rio?
Catarina Vieira – O projeto teve uma evolução muito orgânica. Tínhamos esta ideia de querer comprar um terreno grande para plantar árvores. Éramos jovens na altura e era um sonho que tínhamos. Um dia descobrimos numa revista um terreno que correspondia àquilo que nós idealizávamos e fomos ver. Estava precisamente identificado como Chão do Rio, que é o nome de registo e que mantivemos.

Apaixonámo-nos assim que chegámos. Apaixonámo-nos pela aldeia, apaixonámo-nos pelo sítio. Em 15 dias fizemos o negócio e começámos a tomar conta daquele espaço.

Os anos passaram e tivemos uma fase financeiramente complicada e era complicado conseguirmos manter um terreno de oito hectares, com todas as obrigações de limpeza que temos. Se queríamos manter aquela quinta na nossa posse, seria melhor começarmos a alugar para compensar alguns dos custos que tínhamos. Fizemos rapidamente o licenciamento e começámos a alugar uma casa, que era a que existia na altura. Correu muito bem, teve muita aceitação.

Eu fiz um projeto no âmbito de uma pós-graduação, em que tinha já o conceito do Chão do Rio, quase tal e qual como é hoje. Pegámos nisso e começámos a transformar, a pedir orçamentos e foi uma maratona de algumas noites e dias. No dia 14 de julho de 2014, conseguimos o licenciamento do Chão do Rio.

Como estão a nível de taxas de ocupação?
CV – O verão está a ser normal, estamos praticamente esgotados quase todos os dias. Há alguns dias que fuma ou outra casa fica vazia, até por questões operacionais, mas desde meados de julho começámos a entrar neste ritmo de esgotar praticamente todos os dias. Até aí, o ano não estava a ser assim tão bom face ao ano passado. Os primeiros meses não foram fáceis.

O Chão do Rio foi vencedor na categoria Sustentabilidade Ambiental dos prémios AHRESP, em 2019. Acha que a sustentabilidade é uma tendência de futuro no setor?
CV – Sim. Acho que neste momento ainda é um fator diferenciador, mas haverá um momento em que passará a ser um fator básico, ou seja, todas as unidades hoteleiras terão de passar a ter práticas de sustentabilidade, senão desaparecem. O público está cada vez mais consciente e preocupado com o nosso planeta e é natural que cada vez mais estas questões sejam tidas em conta.

Que práticas sustentáveis é que podemos encontrar no Chão do Rio?
CV – Logo à partida somos uma unidade de pequena escala. Em termos de sustentabilidade temos cerca de metade da nossa área, que é uma área que está em regeneração e uma área de reserva de biodiversidade que nós estamos a restaurar. Mais do que sustentável, eu diria que somos um turismo regenerativo.Depois temos uma piscina biológica, que é também um centro de biodiversidade.

A nível de pequeno-almoço trabalhamos com cabazes e temos todo um esquema implantado que nos permite minimizar desperdícios os nossos hóspedes. Cada casa tem um balde e os hóspedes são convidados a dar os restos dos alimentos aos animais que temos na quinta.

Temos também o sistema de reciclagem em funcionamento e fizemos um protocolo com a Câmara em que eles vão buscar o ecoponto ao nosso espaço e assim não sobrecarregamos os ecopontos da aldeia.

Temos praticamente 100% de fornecedores locais. Tenho consciência da importância de reter o rendimento que o turismo gera no local e não enviá-lo para fora. Se estamos a fazer compras longe, estamos a enviar para fora o rendimento que o turismo traz. Essa é sempre uma preocupação que temos e que nos permite contribuir para o desenvolvimento local.

Esse respeito pela regionalidade e o contacto com a comunidade local será também será uma tendência?
CV – Acho que sim. Unidades como a nossa, de pequena escala, têm tudo a ganhar com isso.

Como a vida é tão rápida, tão intensa, com a questão das tecnologias e com os jovens completamente imbuídos e sempre dentro dos ecrãs, de repente uma família quando vai de férias quer é o oposto. O que quer é ter a possibilidade de abrandar, de ter contato com aquilo que é importante, conversar, conhecer os sítios, sentir a vida acontecer com ritmos da natureza.

Quais serão as principais tendências no setor nos próximos anos?
CV – Acho que as pessoas vão mudar a forma como viajam no sentido de serem mais sustentáveis, teremos cada vez mais viagens de comboio e cada vez mais pessoas a viajar para meios mais próximos. Isso é também algo que sempre nos fez acarinhar muito o público de proximidade, até porque é um público que, independentemente das modas, mais facilmente nos visita.

Sem dúvida que os mercados de nicho serão cada vez mais importantes. As pessoas vão precisar cada vez mais de ter experiências que as despertem para a vida. Não apenas para o “regresso à terra”, como é o nosso caso, mas também para a tecnologia de ponta e outras experiências enriquecedoras do ponto de vista cultural.