Há mais saúde nas farmácias

Com as farmácias, os pontos de vacinação cresceram 400%

Em 2018, a Organização Mundial da Saúde convidou as farmácias, através da Federação Internacional Farmacêutica, a assinar a Declaração de Astana, documento que revisita e estabelece o fortalecimento das redes de cuidados de saúde primários na assistência à população.

As farmácias fazem parte desta visão da OMS muito devido à proximidade geográfica que têm das comunidades – fruto da sua distribuição capilar pelos territórios -, aliada à confiança das pessoas nos profissionais de saúde altamente qualificados que nelas prestam serviço. Características que fazem da rede não apenas uma porta de entrada nos sistemas de saúde, mas a mais acessível. No caso português, todos os dias as equipas das farmácias interagem com 560 mil pessoas. Por outras palavras, é mais do que 5% da nossa população.

Estas mesmas características foram determinantes na decisão das autoridades de saúde nacionais de inclusão das farmácias comunitárias na campanha 2023/24 de vacinação sazonal contra a gripe e a COVID-19. Aliada aos resultados observados noutros projetos e à experiência da rede em vacinação, havia uma noção empírica do seu potencial na resposta ao desafio da reinternalização da vacinação pós-pandemia, numa altura em que, um pouco por todo o mundo, a adesão da população à imunização se encontra ameaçada por um fenómeno sério de cansaço e hesitação vacinal. Por outras palavras, era preciso derrubar barreiras ao acesso, para combater o risco de Portugal não corresponder às boas coberturas vacinais de que sempre se orgulhou.

Os resultados desta política de saúde pública foram agora divulgados, num estudo que procurou avaliar o impacto da intervenção das farmácias na última época de vacinação sazonal e cujas conclusões evidenciam a sua eficácia em termos de saúde pública, a sua eficiência económica e ambiental, e a sua conveniência para as pessoas. Os farmacêuticos comunitários foram responsáveis pela administração de 70% de todas as vacinas na época terminada a 30 de abril, contribuindo para a manutenção da cobertura vacinal da população com mais de 65 anos contra a gripe (72,1% versus 72,2% no ano anterior) e para uma cobertura de 60,8% contra a COVID-19, inferior aos 75,8% alcançados em 2022/23, mas muito acima dos 12% que constituem hoje a média europeia.

Isto foi possível porque, com as farmácias, os pontos de vacinação cresceram 400%, a distância média até aos mesmos encurtou para metade, e onde essa diferença foi mais assinalável verificou-se agora que houve mesmo mais vacinação. Também houve menos gente a deslocar-se de carro e mais a andar a pé, a disponibilidade horária foi maior e o ato oportuno associado a uma comunicação pedagógica teve mais espaço para acontecer. Simultaneamente, porque os farmacêuticos comunitários vacinaram, os profissionais do SNS tiveram mais cerca de 310.000 horas de trabalho que puderam dedicar a outros atos nos cuidados de saúde primários.

O balanço muito positivo da iniciativa e a elevada satisfação das pessoas com a mesma ditaram já a sua continuidade na próxima época de 2024/25, na qual – outra das conclusões do estudo – os desafios continuarão a existir.
Fará, contudo, sentido atentar numa outra dimensão desta experiência: a sua escalabilidade a outros serviços, cujos resultados beneficiariam de ser prestados pelas farmácias. A lógica é a seguida pela OMS: aproveitar a rede na sua capilaridade e qualificação para entregar mais Saúde às pessoas.

Presidente da Associação Nacional das Farmácias