“Gostaria de ter um país menos desertificado”, afirma José Luis da Silva

José Luis da Silva, presidente da Casa Santos Lima, partilha a sua visão para o país daqui a 20 anos

Qual é a sua visão para o país em 2043, ano em que Portugal celebra 900 anos de existência?
JLS – Gostaria que tivéssemos um país menos desertificado. Daqui até 2043 são 19 anos e gostaria que, entretanto, houvesse um esforço grande para corrigir as assimetrias da demografia que temos. Somos um país velho, a envelhecer, e há que criar medidas e estímulos para a correção da natalidade.

A falta de mão-de-obra também é algo que o preocupa?
JLS – A mão-de-obra tem sido compensada com a imigração e nós temos beneficiado dessa possibilidade.

Houve um conjunto grande de trabalhadores moldavos, a maior parte deles ainda cá está e bem integrado, que foram muito importantes para o nosso crescimento. Também temos agora um conjunto de trabalhadores nepaleses que têm dado uma ajuda e convivem muito bem, a quem proporcionamos habitação, etc.

É a única maneira de poder ir crescendo porque há tarefas, por muita mecanização que se faça na vinha, para as quais a mão-de-obra é indispensável.

Acho que devíamos corrigir esta desertificação do interior e isso passa por corrigir a demografia, haver estímulos à natalidade, incentivos fiscais e passa por ter água disponível no interior. A água é vida e, na altura em que houver água no interior e condições fiscais mais favoráveis, vamos ver mais empresas a estabelecer-se, especialmente na parte alimentar.

Temos uma balança alimentar deficitária que não faz sentido com os extraordinários potenciais que temos ao nível de clima e de território.

Em relação às empresas, deveria haver mais estímulos por parte do Estado?
JLS – O principal estímulo é não haver desincentivos. Hoje em dia, para concretizar um investimento, qualquer obra, por mais simples que seja e por mais boa vontade que haja até das câmaras municipais, há todo um conjunto de legislação, de regulamentos, de excesso de intervenientes que complicam, atrasam e criam esta situação.

É preciso ter muita coragem hoje em dia para investir em Portugal. Porque desde a decisão de investir, à decisão de aplicar capitais próprios ou alheios até concretizar, o mais difícil é ultrapassar a burocracia. Tem de haver um esforço imenso na desburocratização do país, na simplificação da atividade. Obviamente que, se houver incentivos fiscais, é ótimo, mas se não houver desincentivos já não é mau.

Em termos de fixação de populações no interior, tem de ser com incentivos fiscais.