Há cerca de três décadas, Portugal foi surpreendido pela saída à rua da “Geração Rasca”. Lembro-me bem pois foi a minha geração que recebeu este label. Protestávamos as provas globais no Ensino Secundário e as propinas universitárias, e mais tarde as condições precárias de um mercado de trabalho onde nenhum diploma ou experiência profissional vingava por si só e uma qualidade de vida que teimava em deteriorar-se. As vozes dos jovens adultos levantaram-se, o vento da mudança pareceu soprar, e são agora os filhos desta geração que enfrentam carreiras profissionais sem qualquer garantia de estabilidade financeira e uma crise de habitação sem precedentes. Os problemas não são uma novidade, mas a sua solução deve mais do que nunca ser: é preciso acreditarmos nos jovens e na sua responsabilidade para liderar o progresso do país.
Existe um estigma de que o jovem português não está pronto, de que tem de “andar ao colo” até amadurecer e conseguir ganhar sentido de responsabilidade, para poder, finalmente, fazer a sua contribuição para a sociedade. A realidade é que os jovens portugueses possuem, de facto, todas as capacidades necessárias para assumir compromissos e marcar a diferença. As únicas ausências nesta situação são, assim, a vontade de dar oportunidades à juventude, de a ajudar a traçar uma visão dos seus objetivos e de fornecer os instrumentos precisos para a concretização das suas ideias. Há o risco de que eles errem ou falhem? Claro. No entanto, estimular o avançar da sociedade é permitir que também exista espaço para os erros e as tentativas das quais se consigam extrair importantes aprendizagens.
É necessário que os atuais líderes saibam criar um ambiente propício para o desenvolvimento e o crescimento profissional dos jovens, sendo que o futuro lhes pertence. Como podem políticos tomar decisões acerca de problemas com os quais não possuem contacto, ou líderes empresariais estimular o progresso das suas organizações a longo prazo sem assegurar o envolvimento dinâmico das gerações seguintes? A história tem revelado que muitas das personalidades notáveis de hoje, como o empreendedor tecnológico Steve Jobs, ou a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Arden, foram impulsionadas a tomar responsabilidades desde cedo nos seus percursos profissionais, o que, consequentemente, lhes permitiu gerar impacto nas suas áreas de atividade.
Desbloquear o potencial dos jovens portugueses passa, neste sentido, pela adoção de uma abordagem de inovação colaborativa por parte dos líderes. É preciso exercitar as capacidades dos jovens, incitá-los a resolver os desafios concretos do país e dar-lhes responsabilidades consideráveis para que estes possam testar as suas soluções e crescer com rapidez através de experiências profissionais significativas. Quer no mundo do empreendedorismo ou da política, é fundamental ir ao encontro dos jovens e promover parcerias que não só resultem em aprendizagens mútuas, mas também no reconhecimento e valorização das competências dos mesmos.
Acredito que todos os líderes devem assumir a responsabilidade de nutrir e capacitar a próxima geração. Não limitem o talento que encontram nas vossas organizações, apostem nos jovens e criem oportunidades para que estes possam demonstrar o quão capazes são quando a ocasião assim exige. Investir e capacitar a juventude é indispensável para a construção de um futuro próspero e sustentável para Portugal.
É altura de dar a vez
Os jovens têm a capacidade necessária para assumir compromissos e marcar a diferença.