Com a subida dos preços no Algarve e o aumento do custo de vida, o famoso slogan “vá para fora, cá dentro” poderá estar a cair em desuso, pelo menos na época alta.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), houve uma ligeira redução das dormidas dos portugueses nos meses de junho, julho e agosto, registando-se uma descida de 6,7%, 2,9% e 6,9% , respetivamente, face a 2019. Apesar disso, no período acumulado de janeiro a agosto de 2023, as dormidas aumentaram 12,0%, +2,4% nos residentes e +16,9% nos não residentes.
“Para mim não é tão preocupante a quebra dos meses de junho, julho e agosto porque nós temos de gerir a sazonalidade do turismo. Sabemos que o excesso de concentração de turistas nas cidades cria baixa qualidade de serviço, insatisfação dos turistas e, consequentemente, quebra de receitas”, afirma António Jorge Costa, Presidente do Instituto do Planeamento e Desenvolvimento do Turismo (IPDT), sublinhando que “não podemos pegar nos meses de verão e dizer que as dormidas de portugueses estão a diminuir em Portugal, porque não estão”.
No primeiro semestre de 2023, de acordo com dados da SIBS, o consumo em Portugal cresceu 12% em relação ao período homólogo. A maioria das transações foram feitas por estrangeiros (23%) e 11% com cartões nacionais.
Com o aumento da inflação e do custo de vida, a redução do turismo interno poderá ser uma tendência futura?
AJC – Os aumentos de preços até maio não se refletiram em quedas; pelo contrário, refletiram-se em aumentos de vendas. Se olharmos para a época alta, acredito que possa ter efeito porque tradicionalmente há um aumento de preços. É possível que na época alta se assista a menos portugueses no Algarve.
Eu próprio estive de férias no Algarve e senti que os preços estavam mais elevados em relação ao ano passado. Em termos de futuro, naturalmente que a inflação vai ter uma repercussão muito forte naquilo que vai ser o orçamento das famílias para fazer férias.
O secretário de Estado do Turismo, Nuno Fazenda, já apelou aos empresários do setor para refletirem sobre o aumento de preços e a valorização do turismo interno. Como olha para isto?
AJC – Eu compreendo a preocupação do senhor secretário de Estado, mas como empresário também sei que não é fácil que me digam para baixar os meus preços se há procura e se temos uma parte da população que reconhece que continua a haver uma relação de esforço-benefício positiva.
Julgo que da parte do Governo pode haver outro tipo de intervenções. Fala-se há muitos anos da possibilidade de podermos deduzir parte das nossas despesas de férias em IRS. Não vejo por que não retomar esse tema porque as férias são um direito das famílias. É uma questão até de saúde pública para que as pessoas possam recuperar as energias antes de retomar ao trabalho.
Seria também importante olhar para a carga de impostos que as empresas da área do turismo sofrem. Há todo um trabalho interessante que pode ser feito por parte do próprio Governo. Não é só pedir aos empresários para reduzirem ou repensarem os preços. Julgo que teria de haver uma reflexão de ambas as partes.
De que forma é que o turismo doméstico pode ser valorizado?
AJC – Eu julgo que o mercado tem de funcionar de forma natural e há ofertas varíadissimas. A pandemia, em 2020 e 2021, trouxe uma sensibilização aos portugueses no que respeita a fazer férias nestes locais menos procurados e menos concentrados, com preços mais acessíveis.
Nós temos de continuar a trabalhar a nossa oferta turística pensada ao longo do ano e não apenas com esta preocupação imediata. Tem de haver uma concertação entre o Governo, a Confederação do Turismo de Portugal e as várias associações representativas da hotelaria, da restauração e das agências de viagens, para repensar esta situação toda.
diana.gomes@newsplex.pt