Paulo Simões: “A atual composição parlamentar não permite reformas de fundo”

“O contexto português de indefinição política, sobretudo face ao OE 2025, cria desconforto nos decisores económicos”, afirma o Sócio da Egon Zehnder (Portugal).

No período pós férias de verão, como antecipa estes quatro meses até ao final do ano, a nível económico do país e da sua atividade, em particular?

Paulo Simões – Na nossa atividade de consultoria em talento de topo, trabalhamos com todos os sectores, exceto o público (por opção). Desde há alguns meses, nas nossas conversas com CEOs e outros decisores, notamos (ainda) mais prudência e menos assunção de risco, algo que conduz a processos de decisão mais longos, menos inovação e dúvidas sobre processos de transformação e expansão.
Para além de alguma incerteza internacional, o contexto português de indefinição política, sobretudo face ao OE 2025, cria desconforto nos decisores económicos. É natural que isto possa implicar um menor crescimento económico do país, sobretudo na segunda metade de 2024.

Se o OE 2025, que será apresentado em outubro, não passar em novembro, deve haver novas eleições? Ou que outra solução deveria ser encontrada, nesse cenário?

PS – A atual composição parlamentar não permite reformas de fundo em Portugal, algo imprescindível para sairmos do cenário de crescer “poucochinho” e menos que os parceiros europeus. Portugal necessita de uma nova visão de desenvolvimento, uma forma inovadora de diferenciação no contexto da globalização, algo que permita um modelo de crescimento económico e desenvolvimento social que não esteja assente na pura redistribuição do que conseguimos por via da Europa e da dívida.
Deste modo, se o OE 2025 não passar em novembro, espero que haja eleições e que se clarifique o que os principais partidos políticos defendem para esta nova visão de desenvolvimento. Tenho o desejo, se bem que menos esperança, que se dê clareza sobre as respetivas implicações económico-financeira para que os portugueses possam melhor analisar os modelos de desenvolvimento propostos, tirar as suas conclusões e gerar uma maioria parlamentar estável. Tal contribuiria, por acréscimo, para o progresso da literacia económico-financeira da nossa população – uma necessidade estrutural que teimamos em não abordar.

O que mais apreciou neste primeiro ano do “Portugal Amanhã”?

PS – O primeiro ano do “Portugal Amanhã” distinguiu-se pela sua abordagem estratégica e aprofundada dos temas cruciais para o futuro do país. O grande destaque foi o foco em questões de longo prazo, superando a superficialidade das notícias diárias para explorar temas como economia, inovação tecnológica ou lições da história, projetando o desenvolvimento de Portugal nas próximas décadas. Sob a liderança de Luís Ferreira Lopes, “Portugal Amanhã” trouxe novas abordagens e novos cronistas, afirmando-se como uma plataforma plural.