José Theotónio: “Mais criação de riqueza para ser distribuída

José Theotónio, CEO do Grupo Pestana, partilha a sua visão para o país daqui a 20 anos

Como é que imagina o país dentro de 20 anos?
José Theotónio — Gostaria de ver um país que tivesse o setor do turismo importante, mas que tivesse também outros setores de atividade que dessem a oportunidade de crescermos enquanto sociedade e de melhorarmos as condições de vida.

O país falhou na criação de riqueza que pudesse ser distribuída. Portugal não cresceu em termos económicos e isso implicou nos salários das pessoas. Falta-nos uma economia mais dinâmica, mais forte, com maior criação de riqueza e que permita depois que essa riqueza seja distribuída e que a vida das pessoas seja melhorada. Era isso que eu gostava de ver.

Isso implicaria alterações em termos fiscais?
JT — A fiscalidade é importante, principalmente para a atração do investimento estrangeiro. Estamos inseridos no mercado europeu, que é um mercado aberto. Há concorrência entre Estados sobre a parte da fiscalidade. Há várias economias que têm crescido muito à conta da sua competitividade fiscal: o caso da Irlanda, da Holanda ou Países Baixos, do Luxemburgo, de Malta, de Chipre.

São países europeus que jogam com as mesmas armas que nós, que estão dentro do mesmo mercado, mas conseguem, através da competitividade fiscal, crescer muito mais do ponto de vista económico e ter, depois, maiores receitas fiscais.

Portugal também tem de evoluir mais na desburocratização, pois os custos contextos são enormíssimos para empresas. É muito mais fácil abrirmos hotéis fora de Portugal do que conseguirmos aprovar aqui projetos. Nós somos daqueles que compramos terrenos, aprovamos projetos, construímos, gerimos e exploramos.

Em Portugal, este tipo de projetos demora muitíssimo. Isso, obviamente, afasta ou atrasa aquilo que é o investimento.

Se isto é verdade para o setor hoteleiro, que é aquele setor em que nós vivemos, o turístico, quando falamos com os nossos colegas em associações, até multissetoriais, eles enfrentam as mesmas questões.

Muitas das melhorias ou das inovações que querem implementar em termos das suas atividades económicas e que são importantes para ganhar competitividade, também elas estão sujeitas a uma série de autorizações e de burocracia que as atrasam e, consequentemente, que fazem atrasar as empresas em Portugal. E quando o mercado é global, então eu faço isso lá fora. Vou fazer noutro país ao lado, faço noutro país europeu. Nem preciso de sair da Europa.

Isso, obviamente, atrasa a economia portuguesa. Portanto, temos de fazer a redução dos custos de contexto e acreditar mais nas pessoas. Temos sistemas demasiado fiscalizadores e muita regulação, mas depois, às vezes, pouca fiscalização.

Se calhar, era preciso ao contrário, acreditar mais nas pessoas, deixar que as pessoas façam e depois, sim, se não for dentro das normas, ter instrumentos para penalizar quem infringe.