Paulo Barradas: “Mais iniciativa privada e menos impostos”

Paulo Barradas Rebelo, CEO da Bluepharma, partilha a sua visão para o país daqui a 20 anos

Qual é a sua visão para o país daqui a 20 anos?
PBR — Quando me perguntavam isso, há 20 anos, eu queria um país mais qualificado, com empresas mais diferenciadas, que transformassem o conhecimento em valor. Esse processo tem vindo a ser conseguido. Os próximos 20 anos vão ser muito mais desafiantes, mas também considero que estamos muito mais bem preparados do que estávamos há 20 anos.

O Portugal que eu queria ver daqui a 20 anos é um Portugal que apostasse mais na iniciativa privada, que deixasse as pessoas, o cidadão, trabalhar, fazer coisas, que cobrasse menos impostos. Que tivéssemos uma economia menos dependente do Estado, menos cobradora de impostos e que permitisse às pessoas e às empresas fazer o seu trajeto, empregando cada vez mais gente, pagando cada vez melhores salários, e, portanto, soltar a economia. No fundo, eu gostava era de ver uma economia cada vez mais qualificada e mais solta das amarras para se poder desenvolver.

Claro, um país amigo do ambiente, em que o ESG esteja sempre presente, com empresas amigas do ambiente, que cumprar com as responsabilidades sociais e com uma governança boa. É assim que eu vejo as organizações no futuro.

Vê em Portugal potencial para poder ser uma economia de conhecimento como a de que falava há pouco?
PBR — Claramente. Fez-se uma aposta já há muitos anos na educação, gastámos muito dinheiro dos nossos impostos na educação, na formação das pessoas.

Estamos a festejar os 50 anos do 25 de Abril e hoje temos um país completamente diferente. Quando olhamos para trás a diferença é brutal. A qualificação, para mim, e a formação são o sinal de maior felicidade que um país ou um povo pode ter.

De facto, o nosso país apostou de forma muito assertiva na formação e hoje temos um número de jovens doutorados até acima da média europeia. Tenho muita esperança de que esta gente que está hoje na bancada das universidades migre para as empresas — e que migre para as empresas portuguesas. Esse é o desafio porque o mercado está aberto, as empresas com maior capacidade económica vêm cá buscar muitos dos nossos jovens. Esse é o desafio que o país tem de conseguir reter. Conseguimos recrutá-los, mas reter é difícil. Esse é o próximo desafio.

Estou confiante de que vamos conseguir, porque este é um dos melhores países do mundo para viver. Qualquer jovem não quer abandonar este país. Vê um país fantástico, uma história incrível, com património impressionante, com paz, com bom tempo, com céu azul, sol, montanha, praia, monumentos, história, boas tecnologias, portanto: temos tudo!
Temos universidades, hoje, de ponta, universidades que estão nos rankings internacionais, e essa reconversão que tem de se fazer daqui para a frente é reter cada vez mais as pessoas. Para isso têm de nos deixar ganhar dinheiro. E as empresas têm de ganhar dinheiro para poder servir cada vez melhor os seus stakeholders.

E como imagina a Bluepharma daqui a 20 anos?
PBR — Nós temos crescido a uma média de 15-20% ao ano e vai ser difícil continuar neste crescimento — a não ser que consigamos lançar esse tal medicamento, esse tal sonho que temos e que nos permita ter crescimento mais alto.

Mas mais importante do que crescermos muito, é sermos uma empresa, uma família, de gente organizada e feliz. É para isso que trabalhamos todos os dias, é para criar à nossa volta essa felicidade, essa alegria do trabalhar, do conquistar, do fazer as coisas bem feitas. Para dormirmos descansados. Porque só quem faz bem é que dorme descansado.