Farmácias. Vacinação sazonal gera economia para os portugueses

A Associação Nacional das Farmácias divulga os resultados de um estudo sobre a campanha de vacinação sazonal de 2023/24, destacando como o fator proximidade gerou uma economia de 2,4 milhões de euros em deslocações para os utentes. Saiba como as farmácias comunitárias estão a transformar os cuidados de saúde em Portugal

A vacinação contra a gripe e a covid-19 nas farmácias comunitárias tornou-se um componente crucial das estratégias de saúde pública para melhorar a acessibilidade às vacinas e aumentar a cobertura vacinal com impactos não só na saúde dos portugueses como económicos e, até, ambientais.

É isso que demonstra o recente estudo de avaliação, promovido pela Associação Nacional das Farmácias (ANF) e conduzido pelo Centro de Estudos e Avaliação em Saúde (CEFAR), que teve como objetivos caracterizar a população elegível para a vacinação sazonal gratuita nas farmácias em 2023/24 no âmbito da colaboração com o Serviço Nacional de Saúde (SNS), avaliar o impacto da participação das farmácias comunitárias na campanha e gerar conhecimento para a preparação das campanhas de vacinação sazonal futuras.

Os resultados, agora divulgados, da última campanha vacinal são a demonstração da importância do papel das farmácias comunitárias nos ganhos alcançados. Destaca-se um aumento de 400% dos locais disponíveis face à campanha de 2022/23 e a redução da distância média entre a população e o ponto de vacinação mais próximo em 50%, passando de 2,4 quilómetros para 1,2 com a inclusão das farmácias. Este facto resultou numa poupança para as pessoas de 2,4 milhões de euros em deslocações. Adicionalmente, verificou-se uma taxa de satisfação de 99%, com os utentes a declararem-se satisfeitos ou muito satisfeitos com a campanha de vacinação de 2023/24.

“A opção de incluir as farmácias comunitárias no processo de vacinação revelou-se um sucesso, porque isso diminuiu a distância entre as pessoas e a vacinação, portanto melhorou-se o acesso, a forma como as pessoas se transportam, além de pouparem dinheiro e tempo e de reduzirem a pegada carbónica. Acima de tudo, no final do dia, aumentámos o número de pessoas que conseguimos vacinar e esse era o grande desafio desta campanha. Quando comparamos Portugal com outras realidades, no nosso país os resultados foram extraordinários”, sublinha António Teixeira Rodrigues, da Direção de Soluções e Evidência em Saúde da ANF e investigador principal deste projeto de investigação que teve ainda como objetivo gerar evidências e conhecimento científico e técnico que permita avaliar a campanha e projetar as seguintes.

“Os desafios são enormes”, alerta, uma vez que a hesitação vacinal continua a aumentar na população. “Nos próximos anos, teremos desafios que não conhecíamos e que com este estudo passámos a conhecer, sobre o que é que leva as pessoas a não se vacinarem, entre outros fatores de risco associados à não vacinação ou à hesitação vacinal. A partir daqui, diria que temos a evidência de que precisamos para desenhar uma campanha cada vez mais efetiva e capaz de aumentar o critério vacinal na população portuguesa”, acrescenta o também professor universitário.

Importante para desenhar estratégias futuras

Ema Paulino, presidente da ANF, destaca o papel deste estudo na avaliação de dimensões quando se pretendem identificar oportunidades de melhoria em questões fundamentais de saúde pública, como a cobertura vacinal. “Era preciso manter os níveis históricos de cobertura vacinal que sempre observámos em Portugal, nomeadamente para a gripe, e manter também uma elevada cobertura vacinal contra o coronavírus no novo contexto de complementaridade entre as farmácias e os centros de saúde para a vacinação”, destaca a responsável.

A presidente da ANF, Ema Paulino, orgulha-se do contributo das farmácias comunitárias para a saúde dos portugueses

A par disso foram avaliadas outras dimensões consideradas importantes, desde logo a satisfação das pessoas com o processo. “Passámos efetivamente de uma população que estava já satisfeita com os processos das campanhas vacinais dos anos anteriores para uma população ainda mais satisfeita, ou seja, conseguimos aumentar o nível de satisfação da população, diminuímos comprovadamente os custos das pessoas com as deslocações e quisemos avaliar a dimensão de redução de pressão sobre o sistema de saúde, sabendo nós que estamos numa circunstância efetivamente de elevada pressão, quer sobre as urgências hospitalares, quer sobre os centros de saúde”, exemplifica. O estudo mostra que o alargamento da vacinação às farmácias terá gerado um potencial de poupança de 310.000 horas de trabalho de recursos ao SNS.

Ema Paulino considera estar reunida a evidência de que é possível trabalhar em soluções que envolvam todos os agentes da saúde para replicar o sucesso da campanha de vacinação sazonal 2023/24, mostrando a disponibilidade das farmácias para outras medidas que beneficiem do contexto de proximidade e assim facilitar o dia a dia das pessoas.

Papel das farmácias pretende-se cada vez mais ativo

O estudo foi apresentado publicamente em Lisboa no passado dia 18, na conferência “Vacinação Sazonal | Há mais Saúde na Farmácia”, promovida pela ANF, na perspetiva de ser dado a conhecer aos cidadãos e também discutido com o poder político, com outras instituições de saúde e várias entidades envolvidas no processo.

No encerramento da sessão, que incluiu o debate “Vacinação nas Farmácias: um olhar sobre o futuro”, a ministra da Saúde Ana Paula Martins enalteceu o contributo das farmácias comunitárias para a melhoria do acesso e da qualidade dos cuidados de saúde prestados aos cidadãos: “Foram administradas perto de 4,5 milhões de vacinas, 70% das quais em farmácias comunitárias, por farmacêuticos com competência em administração de vacinas e medicamentos injetáveis, dados que revelam o importante contributo dos farmacêuticos comunitários para a cobertura vacinal da população portuguess e que superam a meta definida pela Organização Mundial da Saúde”. Por outro lado, acrescentou a governante, “o XIV Governo Constitucional apresenta no seu Programa de Governo uma aposta clara no reforço do SNS, inserindo-se nas suas medidas o alargamento dos cuidados prestados pelas farmácias comunitárias, utilizando de forma racional e integrada a rede de farmácias no sistema de saúde e garantindo uma maior proximidade aos cidadãos nas áreas de competências das mesmas”. Neste sentido, a ministra anunciou o estabelecimento de um protocolo com as farmácias para as atividades conjuntas a desenvolver, em articulação com outros agentes e o SNS, resultado de uma “relação virtuosa que trabalha para as pessoas”.

A ministra da Saúde, Ana Paula Martins, reconhece a “relação virtuosa” entre as farmácias e o Serviço Nacional de Saúde

É inquestionável o papel das vacinas na prevenção de doenças hoje e no futuro. O desafio agora é comunicar à população os seus benefícios para combater a crescente hesitação vacinal e continuar a avaliar os impactos das campanhas da vacinação sazonal na vida das pessoas. António Teixeira Rodrigues não tem dúvidas de que é fundamental “continuar a seguir a coorte da população portuguesa, o que nos vai permitir conhecer melhor cada vez melhor o que é que determina as pessoas a vacinarem-se ou não e, acima de tudo, essa informação deve ser depois utilizada, pelas autoridades de saúde. Há que avaliar também de que forma estas campanhas impactam na atividade diária da farmácia, até para se estimar a sustentabilidade a longo prazo. No final, o que se pretende é que isto resulte numa melhoria na forma como abordamos as pessoas e conseguirmos boas taxas de cobertura vacinal para que tenham mais saúde”.

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