O “novo” Martim Moniz: um jardim onde cabe todo o mundo

Mais espaços verdes, mais espaço para as pessoas e uma reorganização de toda a envolvente vão trazer à Praça Martim Moniz, localizada no centro histórico da capital, o esplendor que merece. O projeto de requalificação está em marcha.

A praça, cujo nome homenageia o cavaleiro lendário que terá ajudado D. Afonso Henriques a conquistar Lisboa aos mouros em 1147, vai ganhar, a partir de 2026, um novo elã. O projeto de requalificação, da autoria do atelier FC Arquitectura Paisagista, promete restabelecer relações e reintegrar a praça no tecido da envolvente, contribuindo para preparar o futuro tendencialmente pedonal do centro da cidade, ao dar a primazia às pessoas, e concorrendo para transformar a capital numa cidade mais resiliente e com menos carros.

O que vai mudar

O conceito do “novo” Martim Moniz assenta em três ideias-chave: resgatar o vale fértil que em tempos ali existiu, redefinir todo o trânsito que passa pela atual praça, e revelar a história daquele local, resultando num jardim virado para o mundo, com vários tipos de vegetação que tenham que ver com aqueles que existem nos países de origem de todas as pessoas que moram ali à volta ou que a visitam e oferecer-lhes um espaço público mais acessível e confortável. Ou seja, um grande corpo verde onde apetece parar para descansar, conviver ou brincar de forma segura. A proposta contempla um modelo de gestão hídrico que prevê a retenção e reciclagem de água, um dos eixos fundadores do projeto e que originará uma transformação essencial ao nível ambiental.

Há muitos solos no mundo e há muitas regiões do mundo no Martim Moniz, espaço vivo e multicultural da cidade. A ideia singular que sustenta o desenho do novo jardim nasceu de um processo participativo iniciado em janeiro de 2021 que foi objeto de concurso público cujos resultados foram conhecidos em novembro do ano passado, com a exposição das propostas. O desenho assenta na definição da paisagem “de baixo para cima”, isto é, fazendo um zonamento a partir da base que se reflete na estrutura verde e na identidade da envolvente. Ao selecionar certos tipos de solo e de espécies, estar-se-á a contribuir para o sentimento de pertença a este espaço e à cidade.

Por outro lado, está previsto remodelar o sistema de circulação viária da praça, com a reposição do traçado integral da antiga rua da Palma, devolvendo-lhe a importância do passado, e, a sul, uma rotunda que garantirá a fluidez da circulação de todos os veículos. No lado nascente, uma ampla área exclusivamente pedonal, reconfigurará e ampliará o espaço público em torno da Capela de Nossa Senhora da Saúde, onde nascerá uma praça polivalente. Aqui vai ser possível desfrutar de múltiplas atividades ao ar livre, desde sessões de cinema a eventos culturais, passando pela organização de mercados ou pela prática desportiva.

Um olhar sobre o passado

Acredita-se que a ocupação humana deste lugar remonta a 8 mil anos, com o povoado neolítico da encosta de Sant’Ana, situado na margem do Regueirão dos Anjos, no vale da Mouraria. Na Idade Média, a área correspondente à praça atual era atravessada pela Cerca Fernandina (1373-1375), estrutura muralhada que delimitava a cidade e da qual ainda hoje restam vestígios na zona, como a Torre do Jogo da Péla e a Inscrição Comemorativa da construção da referida cerca. O terramoto ocorrido em 1755 viria a afetar parte desta área, tendo resistido alguns edifícios, como a capela de Nossa Senhora da Saúde e a Igreja do Socorro.

Com a cidade a crescer, sobretudo desde o final do século XIX, no século XX a praça viria a sofrer grandes transformações. Após várias demolições surgiu em meados do século um vasto largo, então denominado Martim Moniz, virado para a atividade comercial, tendo sido desde aí, alvo de vários estudos e trabalhos de requalificação até chegar aos dias de hoje.

História contada em 60 painéis

Para conhecer melhor a história deste lugar secular de fixação humana, bem como o resultado do concurso internacional com as respetivas propostas, incluindo a vencedora, que vai mudar uma das mais antigas praças da capital, a Câmara Municipal de Lisboa montou, em plena praça, uma exposição aberta a todos os visitantes até ao dia 15 de abril. Uma viagem entre o passado e o futuro a não perder.

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