Mobilidade profissional: tendência a crescer

A mobilidade profissional cresceu consideravelmente, especialmente entre os profissionais mais jovens, que hoje procuram principalmente o crescimento pessoal e já não fazem questão de trabalhar tanto tempo na mesma empresa. Susana Costa, da Robert Walters, explica quais as tendências e como é que as empresas se podem adaptar.

Costuma dizer-se que mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. E a realidade é mesmo essa. Os jovens de hoje em dia não querem o mesmo, principalmente no que diz respeito ao mercado de trabalho. E uma coisa é certa: a mobilidade profissional é uma preferência nas atuais gerações mais jovens.

«As novas gerações, como os Millennials e a Geração Z, cresceram num contexto de mudanças rápidas e constantes, com acesso ilimitado à informação e influenciadas por um mercado de trabalho cada vez mais global e dinâmico», começa por explicar ao Portugal Amanhã, Susana Costa, Recruitment Senior Manager da Robert Walters, que recorda o relatório Diversidade Geracional no Meio Profissional da Robert Walters que revela que 74% dos profissionais mais jovens consideram a mobilidade essencial para o seu desenvolvimento.

«Estes profissionais tendem a valorizar experiências diversificadas, uma aprendizagem contínua e o desenvolvimento pessoal e profissional, o que explica a sua maior abertura à mobilidade», avalia Susana Costa, acrescentando que, para eles, «mudar de função, equipa, setor ou até mesmo de país é visto como uma forma de adquirir novas competências e manterem-se competitivos no mercado, ao contrário das gerações anteriores, que priorizavam a estabilidade e a permanência a longo prazo numa mesma empresa».

Empresas têm que se adaptar

E se os jovens mudam a forma como vêm o emprego, também as empresas terão que fazer alguma coisa a esse respeito. Susana Costa defende que «esta tendência obriga as organizações a repensarem as suas estratégias de retenção de talento», alertando que as empresas «que não oferecem perspetivas de crescimento e novos desafios enfrentam uma maior rotatividade e, consequentemente, custos mais elevados com processos de recrutamento, onboarding e formação».
De acordo com o relatório da Robert Walters, «60% das empresas enfrentam dificuldades em reter talento devido à falta de oportunidades internas». E a Recruitment Senior Manager da empresa diz que, «para se adaptarem, as organizações devem implementar programas de mobilidade interna, permitindo aos colaboradores explorar diferentes áreas e projetos», destacando: «Criar planos de carreira personalizados, fomentar uma cultura de aprendizagem e reconhecer o potencial dos colaboradores que procuram novos desafios são estratégias essenciais para manter o talento dentro da organização».

Forte impacto no mercado de trabalho

A responsável não tem dúvidas que esta tendência de mobilidade profissional nos jovens tem impacto. «Terá certamente impacto no mercado de trabalho português», diz ao Portugal Amanhã lembrando dados recentes que mostram que 58% dos profissionais em Portugal afirmam estar dispostos a mudar de função se isso lhes proporcionar maior desenvolvimento de competências.

«Se por um lado, poderemos assistir a uma maior dinamização e diversificação de competências, com profissionais mais versáteis e adaptáveis, por outro, as empresas que não conseguirem acompanhar estas mudanças poderão perder talento para organizações internacionais, uma vez que o mercado global está cada vez mais acessível através do trabalho remoto», dizendo ainda ser importante notar que «37% dos profissionais indicam estar à procura de melhores perspetivas profissionais como principal motivo para deixar o país, nomeadamente entre os jovens de 18 a 24 anos (64%) e entre indivíduos com formação universitária (34%), em comparação com gerações mais velhas».

Assim sendo, Susana Costa alerta que «é fundamental que as empresas portuguesas invistam em iniciativas que promovam o desenvolvimento e crescimento profissional dos seus colaboradores, considerando não apenas a remuneração, mas também fatores como flexibilidade de horário, autonomia, responsabilidade, entre outros».

Oportunidade ou prejuízo?

Tentámos ainda perceber junto de Susana Costa se esta é uma tendência que pode afetar a produtividade portuguesa ou se, por outro lado, é uma boa mudança. Susana Costa defende que a mobilidade profissional, «se bem gerida, pode ser uma excelente oportunidade para impulsionar a produtividade no país», acrescentando que «profissionais que têm a oportunidade de aprender continuamente e experimentar novos desafios tendem a estar mais motivados e engaged com a organização».

A responsável recorda ainda existiram estudos que indicam que 68% dos colaboradores que participam em programas de mobilidade interna «demonstram maior satisfação e produtividade no trabalho». No entanto, acrescenta, «se as empresas não criarem mecanismos para reter e desenvolver o talento, poderemos enfrentar dificuldades em manter equipas experientes e altamente produtivas».

Por tudo isto, Susana Costa é da opinião de que «a chave está em equilibrar a mobilidade com uma estratégia de desenvolvimento interna, assegurando que os colaboradores encontram na sua empresa os desafios e oportunidades que procuram no mercado».

O que diz o relatório

O relatório sobre os dados do mercado de trabalho português e europeu adianta que Portugal tem registado uma diminuição gradual no número de vagas de emprego desde o pico de 2022. «Atualmente, as vagas de trabalho têm diminuído mês após mês durante os últimos meses, situando-se agora abaixo dos níveis pré-pandemia», lê-se no relatório que acrescenta que a taxa de desemprego, «relativamente baixa, tem criado um mercado de trabalho favorável aos candidatos, permitindo que muitos consigam salários mais elevados devido à escassez de competências em várias áreas».

O relatório da Robert Walters refere que a estabilidade económica e o crescimento «serão cruciais este ano, com o Governo a apontar para um crescimento do PIB de 2%, embora a previsão do FMI seja mais moderada», com uma estimativa de 1,6% para 2025.

Já o investimento, diz, «é necessário para impulsionar o mercado de trabalho e criar mais empregos, algo que tem sido inferior ao registado por outras economias europeias desde a pandemia».
Por isso defende que, este ano, o foco «será nas faixas etárias mais jovens e nos talentos de entrada no mercado de trabalho, pois as empresas estão a perceber as consequências da saída precoce de profissionais experientes, que está a provocar uma redução da força de trabalho e que poderá representar desafios a longo prazo».

daniela.ferreira@nascerdosol.pt