Portugal é um país que conta com várias pequenas e médias empresas (PME). A capacidade e vontade de crescimento são grandes mas faltam alguns apoios e investimentos. Hoje em dia, a aposta no mercado internacional é grande mas nem todos conseguem lá chegar. O Portugal Amanhã falou com Christelle Domingos, diretora executiva da InovCluster – Associação do Cluster Agroindustrial do Centro, que nos explicou como é que as PME portuguesas podem ser ainda mais competitivas e como é que a associação que dirige pode ajudar.
Para isso, defende Christelle Domingos, as PME precisam de se focar em quatro áreas chave: «Inovação, qualificação, sustentabilidade e digitalização». E explica porquê: «A inovação é fundamental, seja no desenvolvimento de novos produtos ou serviços, seja no processo produtivo», defendendo que as empresas «precisam de estar abertas e disponíveis em investir em investigação e desenvolvimento (I&D), estabelecer parcerias com clusters, centros tecnológicos e universidades, e adaptar-se rapidamente às mudanças do mercado». E, para que isso aconteça, é «fundamental que as PME apostem na qualificação das suas equipas, através de programas de formação, e outras iniciativas que potenciem a capacitação do seu capital humano, sendo este um outro ponto crucial para melhorar a competitividade».
No que diz respeito à digitalização, Christelle Domingos não tem dúvidas que esta «é uma ferramenta essencial para aumentar a eficiência e reduzir custos operacionais, além de possibilitar uma maior proximidade com os clientes através de plataformas digitais».
Por fim, é necessário adotar modelos de negócio sustentáveis, «que promovam a eficiência energética, a economia circular, e o uso responsável dos recursos, não só é uma exigência dos consumidores atuais e das próprias regulamentações, mas também resulta em novas oportunidades de negócio e um posicionamento diferenciado no mercado», lembrando que as empresas que investem em sustentabilidade «não só cumprem com as normas ambientais, mas também atraem clientes e parceiros que valorizam essas práticas, fortalecendo a sua posição no mercado global».
Mercado Internacional
Atualmente, cada vez mais empresas pretendem apostar no mercado internacional, de forma a que o seu produto seja mais conhecido e, assim, mais comercializado. Christelle Domingos confirma esta tendência e explica que, «com a globalização e a necessidade de diversificação de mercados, muitas PME procuram expandir a sua presença além-fronteiras, especialmente em mercados da União Europeia e outros países de forte crescimento, como os mercados latino-americanos». No entanto, alerta, «a estratégia internacional é muitas vezes um processo gradual que envolve uma preparação exaustiva e uma adaptação a novas culturas de negócios, normas e regulamentos».
Para que levem os seus negócios além-fronteiras, as empresas «devem investir em conhecimento do mercado e procurar os canais certos para aceder a novos consumidores», informa a diretora executiva da InovCluster, acrescentando que essas estratégias podem incluir «a participação em feiras internacionais, em missões internacionais, em eventos e reuniões B2B, a criação de parcerias locais ou internacionais, e o investimento em marketing digital para aumentar a visibilidade no mercado-alvo».
Mas não é só, uma vez que a internacionalização «também exige uma boa compreensão das barreiras legais, regulatórias e culturais de cada país. Além disso, o uso de plataformas e-commerce pode facilitar a entrada em mercados distantes».
No entanto, a verdade é que a dimensão das empresas portuguesas é muitas vezes apontada com um dos principais entraves para a internacionalização. Christelle Domingos assume este problema e explica que «muitas vezes, as empresas de menor dimensão não têm produção em escala, recursos financeiros ou humanos necessários para enfrentar os custos e as complexidades da expansão para novos mercados». Para resolver este problema, «é essencial promover a colaboração entre as PME, através de redes e clusters, como o InovCluster, que podem ajudá-las a partilhar custos e recursos, aumentando a competitividade global». Além disso, «a disponibilização de apoio público em termos de financiamento, incentivos fiscais e acesso a mercados internacionais pode ajudar a mitigar essa limitação».
E nessa tentativa de internacionalização, são muitas as empresas que apostam em feiras lá fora. É uma forma de mostrarem o seu trabalho e chegarem a mais públicos. Christelle Domingos não tem dúvidas que estes eventos «são uma grande mais-valia para as empresas, especialmente as PME», uma vez que oferecem «uma excelente oportunidade para aumentar a visibilidade, estabelecer contactos diretos com potenciais clientes, distribuidores e parceiros de negócios, e observar as tendências do mercado». Para além disso, as feiras «permitem fazer benchmarking com concorrentes internacionais, e, muitas vezes, são o ponto de partida para a abertura de novos canais de distribuição e vendas», diz, lembrando que o InovCluster, por exemplo, apoia as empresas na participação em feiras de referência, «proporcionando uma plataforma para mostrar a inovação e a qualidade dos produtos nacionais».
Mais apoios
E ainda que as empresas tenham capacidades para se desenvolver, são necessários mais apoios, com destaque para a internacionalização e a inovação. No entanto, «um dos maiores entraves que as PME enfrentam é a complexidade burocrática associada ao acesso aos projetos cofinanciados», alerta Christelle Domingos, garantindo que o processo é muitas vezes «moroso e exigente em termos de documentação, o que desencoraja claramente as empresas de se candidatarem a esses apoios, mesmo quando são uma excelente oportunidade de financiamento».
Além disso, a responsável considera importante acelerar os processos de reembolso «visto que muitas empresas enfrentam dificuldades financeiras durante a execução dos projetos, e os atrasos nos pagamentos podem comprometer a sua sustentabilidade», defendendo que «a celeridade e a simplificação nos processos administrativos ajudariam a garantir que as PME possam continuar a investir sem enfrentar entraves financeiros inesperados».
Outro ponto importante é a criação de políticas de discriminação positiva para as PME integradas em clusters, como o InovCluster. «As empresas que fazem parte de um cluster já demonstram um esforço conjunto para aumentar a competitividade e inovação, o que deveria ser valorizado pelo Governo», diz Christelle Domingos, acrescentando que a implementação de incentivos específicos para essas empresas «poderia ser um impulsionador importante para a internacionalização e o crescimento sustentável, reforçando a colaboração entre empresas e aumentando as taxas de sucesso em mercados externos».
E, claro, é preciso mais apoio financeiro «que esteja de facto alinhado com as realidades de cada setor, como linhas de crédito e incentivos fiscais para a exportação, além de um apoio mais robusto na consultoria e assistência técnica para a adaptação a novos mercados», sendo ainda importante que o Governo «continue a promover programas de qualificação e digitalização, bem como o acesso a redes de contactos internacionais».
Projeto Export.i9
Para ajudar as empresas, o InovCluster criou o projeto Export.i9 que é uma iniciativa que pretende apoiar as PME portuguesas na sua internacionalização, «proporcionando uma plataforma de apoio e ferramentas para explorar novos mercados e melhorar as suas estratégias de exportação». Segundo a diretora executiva da associação, o projeto «foca-se na transformação digital e na inovação das empresas, ajudando-as a adaptar-se às exigências globais». O InovCluster, diz, «desempenha um papel importante neste projeto ao apoiar as empresas do setor agroalimentar e outras áreas, fornecendo-lhes acesso a conhecimentos técnicos, redes de contactos e apoio na participação em eventos internacionais. Através deste projeto, as empresas podem desenvolver as suas competências e aumentar a sua competitividade no mercado global».
Assim, durante o ano, vão decorrer ciclos de workshops que «têm como objetivo fornecer capacitação prática e teórica sobre temas essenciais à internacionalização, como estratégias de entrada em mercados internacionais, adaptação de produtos, e práticas de negócios globais».
Esta é uma das muitas ajudas, a que se juntam um conjunto de missões empresariais virtuais, «sendo estas excelentes oportunidades de prospeção de mercados, conhecer melhor as oportunidades de negócio e estreitar relações com potenciais parceiros locais».
daniela.ferreira@nascerdosol.pt