Neste mês de janeiro, passam 700 anos da morte de D. Dinis. Conhecido como o ‘Rei Lavrador’, foi uma figura central na história de Portugal, principalmente pelo seu papel em promover a agricultura, a cultura e a justiça. Governou o país de 1279 a 1325 e, durante o seu reinado, trabalhou ativamente para consolidar a paz interna e incentivar o desenvolvimento social e económico.
D. Dinis é frequentemente associado à ideia de harmonia, não apenas no contexto social, mas também no político e económico. O rei procurou estabilizar o país, promover a paz e a colaboração entre os diferentes grupos da sociedade. A sua política agrícola foi uma das mais notáveis, pois incentivou novas culturas e o uso mais eficiente da terra, o que contribuiu para o aumento da produtividade e da estabilidade económica. Também teve uma grande preocupação com a formação de uma rede de infraestruturas como estradas, moinhos e castelos, que contribuíram para a união e coesão da sociedade medieval portuguesa. Além disso, D. Dinis demonstrou uma grande habilidade em lidar com as questões políticas, buscando sempre a paz através de negociações e alianças, e não através de conflitos prolongados.
Os líderes contemporâneos podem aprender muito com o exemplo de D. Dinis como líder adepto de harmonia:
Promover a Cooperação
D. Dinis procurou ser um monarca que atuava como um mediador entre as diferentes classes sociais do seu tempo. O seu reinado, embora marcado por desafios como disputas territoriais e dificuldades económicas, teve um foco claro em consolidar uma sociedade mais equilibrada e coesa. O rei procurou a integração dos diferentes grupos sociais, como a nobreza, o clero e os camponeses. Uma das formas de fazer isso foi promovendo a agricultura, que era a base da economia da época. Ao incentivar a plantação de novas culturas e ao facilitar o acesso dos camponeses à terra, contribuiu para melhorar a qualidade de vida de muitas pessoas, sem recorrer a grandes distúrbios sociais ou políticas de repressão.
Nos dias de hoje, muitos estadistas e líderes corporativos contemporâneos enfrentam polarizações intensas, com divergências de interesses e um aumento das desigualdades. A lição de D. Dinis, portanto, é a importância de procurar soluções que integrem as diversas partes interessadas, buscando minimizar divisões e promover uma convivência mais harmoniosa. Isso pode ser feito através de políticas de inclusão, de diálogo intergrupal e da construção de pontes entre diferentes segmentos.
Investir no Desenvolvimento Sustentável
D. Dinis foi notável pelo seu impulso para a melhoria da agricultura, do uso da terra e mesmo da marinha. Também implementou políticas de reflorestamento, incentivando a plantação de árvores. A sua aposta na agricultura, na gestão do território e no apoio a setores económicos sustentáveis, pode ser vista como uma lição sobre a importância de estratégias focadas no longo prazo e no bem-estar coletivo. Acabou por promover a sustentabilidade ambiental e a utilização responsável dos recursos bem antes de se falar no tema.
Para os líderes contemporâneos, o exemplo de D. Dinis sugere que as políticas de desenvolvimento devem garantir que esse crescimento seja sustentável a longo prazo. Na prática, significa direcionar recursos financeiros, tecnológicos e humanos para projetos e ações que atendam às necessidades atuais sem prejudicar a capacidade das futuras gerações de suprirem as suas próprias. Isso envolve equilibrar aspetos económicos, sociais e ambientais, promovendo simultaneamente o crescimento económico, a inclusão e a sustentabilidade de forma harmoniosa.
Fomentar a Inovação e Formação
D. Dinis foi um grande defensor da educação e da cultura. Foi o rei que fundou a Universidade de Lisboa e apoiou a criação de outras instituições educacionais. No seu reinado, a cultura floresceu através do incentivo à poesia e à literatura, sendo ele próprio um poeta que valorizava o desenvolvimento intelectual. D. Dinis sabia que uma nação só pode progredir de forma sólida quando investe no conhecimento, na ciência e na educação do seu povo. Também por isso devemos ao rei-poeta o fato de escrevermos em português, como língua oficial.
Nos dias de hoje, o investimento em formação continua a ser uma das formas mais eficazes de garantir o progresso de um país ou empresa. Para os líderes contemporâneos, a lição é clara: políticas que promovam a educação, a inovação e a criatividade são fundamentais para o desenvolvimento. Ao investir na formação e ao promover a pesquisa e a inovação tecnológica, os líderes trabalham para que as suas organizações tenham as ferramentas necessárias para enfrentar os desafios do futuro.
Optar pela Resolução Pacífica de Conflitos
Durante o seu reinado, D. Dinis foi conhecido pela sua habilidade diplomática e pela preferência em resolver disputas através de negociações e acordos, em vez de recorrer à guerra. Um exemplo disso foi a forma como lidou com as tensões com Castela, ao buscar a paz através de tratados que assegurassem os interesses de Portugal sem recorrer ao conflito armado.
Também usou os casamentos como ferramenta diplomática, como aconteceu com o seu casamento com a rainha Santa Isabel, que simbolizava uma aliança entre as duas nações, para além dos casamentos (mais tarde) dos seus dois filhos legítimos. Permitiu assim o estabelecimento definitivo das fronteiras portuguesas no Tratado de Alcanices.
Este aspeto do reinado de D. Dinis é altamente relevante nos tempos modernos, onde a diplomacia e a resolução pacífica de conflitos são necessárias para garantir o desenvolvimento. Num mundo em confronto, a lição de D. Dinis é que, em muitas situações, o diálogo, a mediação e o estabelecimento de acordos pacíficos são mais eficazes do que o uso da força. Líderes contemporâneos podem aprender a importância da harmonia, isto é, de investir em diplomacia, mediação e processos de resolução de conflitos.
E quando a harmonia não funciona?
Quando D. Dinis não conseguiu dissipar os conflitos internos por meios diplomáticos ou políticos, optou por abordagens pragmáticas que combinavam concessões estratégicas e a imposição da sua autoridade. Nos conflitos com o irmão, D. Afonso, recorreu a cercos militares e ao exílio, mas também garantiu rendas e senhorios como forma de apaziguamento. No caso do filho, o futuro D. Afonso IV, embora o conflito tenha escalado para uma guerra civil, D. Dinis cedeu no final do reinado, retirando privilégios ao seu filho bastardo, Afonso Sanches, e entregando ao herdeiro castelos e terras já conquistados. Estes conflitos internos, embora desafiadores, não comprometeram a harmonia geral do reinado de D. Dinis, que conseguiu reconciliar-se com a família e pacificar o reino antes da sua morte.
Epílogo
A busca de harmonia em D. Dinis pode servir como um modelo de liderança equilibrada, diplomática e focada no bem coletivo. Para líderes corporativos contemporâneos, isso envolve a habilidade de gerir interesses divergentes, promover o bem-estar de todos os envolvidos, resolver conflitos de maneira construtiva e tomar decisões estratégicas que visem não só os resultados imediatos, mas também a sustentabilidade e o impacto positivo a longo prazo.
Sócio da Egon Zehnder (Portugal)