O programa que está a cultivar a inclusão para jovens com dificuldades intelectuais

Numa sociedade que ainda está a aprender a valorizar a diferença, o programa SEMEAR semeia oportunidades para jovens com dificuldades intelectuais no mercado de trabalho. Este projeto pioneiro já mudou o rumo de dezenas de vidas, provando que todos têm um lugar legítimo na comunidade. Conheça a sua história inspiradora e o impacto transformador que…

Há histórias que nascem de acontecimentos inesperados que obrigam a redefinir vidas. Foi assim com Joana Santiago, uma mãe que há 26 anos viu a sua vida mudar com o nascimento de um filho com deficiência. Confrontada com a falta de respostas para crianças e jovens com necessidades especiais e suas famílias, decidiu abandonar uma carreira de enfermeira de três décadas, “meter mãos à obra” e unir forças com outros pais nas mesmas circunstâncias, fundando, em 2009, a Associação BIPP – Inclusão para a Deficiência.

Cinco anos depois, escrevia um novo capítulo ao lançar o programa SEMEAR, que, mais do que um projeto, era uma visão: a de construir um caminho onde jovens e adultos com dificuldades intelectuais pudessem sentir que tinham um lugar legítimo na sociedade onde, de acordo com um estudo recente da Randstad Research, 59% das pessoas com incapacidades estão desempregadas, 62% das quais em situação de desemprego de longa duração, 77% não está a realizar nenhuma formação e que a grande maioria dos entrevistados (92%) acha difícil ou muito difícil encontrar um novo emprego.

“Percebemos que jovens e adultos com dificuldades intelectuais são os que enfrentam maiores barreiras na sociedade. São aqueles que encontram menos oportunidades e que, muitas vezes, permanecem invisíveis, porque o mundo à sua volta ainda não está preparado para os acolher. No entanto, sabemos que estas pessoas têm um imenso potencial, talentos e competências únicas que merecem ser valorizados”, explica a presidente da BIPP.

Terra de oportunidades que cultiva esperança

Através de uma academia dedicada, o SEMEAR oferece, assim, formação e capacitação, preparando estas pessoas para entrarem no mercado de trabalho com confiança e autonomia. Paralelamente, empresas potencialmente empregadoras também são envolvidas no processo, sendo formadas para as acolher e integrar de forma plena.

No entanto, o alcance deste projeto inovador não se limita à formação, já que inclui, também, atividades económicas onde os jovens participam de forma ativa, adquirindo experiência prática e demonstrando o seu valor em contexto real de trabalho, como a produção agrícola biológica, a transformação alimentar, e a cerâmica decorativa e utilitária. Estes produtos são colocados no mercado através de uma loja online não apenas para gerar receita, mas para inspirar uma mudança de mentalidades. As vendas ajudam a financiar o projeto, permitindo ampliar o impacto social, criando mais oportunidades e abrindo novas portas.

“Neste momento, estamos a acompanhar 106 jovens em várias fases da sua formação que lhes oferece muitas experiências de trabalho teóricas e práticas. Além disso, podem escolher a sua via profissional, que normalmente é no setor agroalimentar. Até ao momento, já integrámos no mercado de trabalho 65 jovens em diversas empresas e na nossa organização: 25% da nossa equipa são pessoas com dificuldade intelectual, supercompetentes, que têm um contrato de trabalho e as mesmas condições que qualquer outra pessoa”, pormenoriza Joana Santigo.

A academia funciona no Instituto Superior de Agronomia, de onde saem os produtos gourmet e a cerâmica, e os produtos hortícolas provêm de uma área de cultivo com cerca de sete hectares, na Quinta do Marquês, em Oeiras, em parceria com o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária.

O programa, que tem uma duração média de 27 meses, é flexível e ajusta-se às necessidades e objetivos de cada formando. Segundo Joana Fialho, coordenadora técnica pedagógica do SEMEAR, “começamos numa fase de competências pessoais e sociais, que são críticas para a empregabilidade. À medida que estas competências são adquiridas, avançamos para a parte mais prática e técnica”, com formações específicas em áreas como a armazenagem e a indústria alimentar”.

A força das parcerias

Uma componente essencial do programa é o acompanhamento personalizado. “Temos sempre um gestor de caso que faz a mediação entre o formando, as suas necessidades e o mercado de trabalho”, explica a coordenadora pedagógica. Este acompanhamento é gradualmente reduzido ao longo do tempo, com o objetivo de “passá-lo para a empresa, no sentido de a verdadeira inclusão começar a acontecer”.

Por isso, as parcerias com empresas, de que a Trivalor é exemplo, são um pilar fundamental do projeto. Iniciada em 2021 no âmbito da responsabilidade social corporativa, a parceria com o SEMEAR abrange várias fases, desde visitas às unidades da Trivalor até experiências práticas, estágios e integração no mercado de trabalho.

“Os jovens visitam as nossas unidades para perceberem o mundo do trabalho e descobrirem a área com que mais se identificam. Numa fase mais avançada, têm experiências práticas e, posteriormente, estágios, sejam curtos ou mais longos”, refere Carolina Sousa, representante desta empresa para a área da Sustentabilidade e Responsabilidade Social Corporativa, que destaca o papel do SEMEAR também na sensibilização das equipas internas. “Os gestores de caso não só acompanham e apoiam os jovens, como também sensibilizam as nossas equipas para as necessidades e capacidades destes jovens”, sublinha a responsável.

Um exemplo desse trabalho são as tertúlias organizadas no SEMEAR, em que são convidados colaboradores da Trivalor das mais diversas áreas para responderem às questões dos jovens.

Alex, de 22 anos, está a estagiar na Trivalor após os quase três anos de curso, um percurso que o deixa muito feliz: “Este estágio está a ser importante para mim porque estou a trabalhar e vai ser bom para o meu futuro”, confessa, com um sorriso estampado no rosto.

Até ao momento, a Trivalor já contribuiu para o percurso formativo de mais de uma dezena de jovens do SEMEAR, entre outras organizações, alguns dos quais fazem hoje parte dos quadros da empresa. “É algo que muito nos orgulha”, conclui Carolina Sousa.

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