Líder “fazedor”: o exemplo de Duarte Pacheco

Mais do que idealizar, Duarte Pacheco concentrava-se na execução, em fazer acontecer. O que podem os líderes contemporâneos aprender com este líder “fazedor”?

Cumprem-se este mês 81 anos desde a morte do Engenheiro Duarte Pacheco, o líder “fazedor” por excelência da história de Portugal desde o tempo do Marquês de Pombal. Ao longo da sua breve vida, demonstrou uma abordagem prática, enérgica e orientada para a execução, características que o definiram como um “fazedor”.

Mais do que idealizar, Duarte Pacheco concentrava-se na execução, em fazer acontecer. O que podem os líderes contemporâneos aprender com “o Engenheiro” (conforme era apelidado pelos políticos da época) e com “o Político” (como era chamado pelos seus colegas de curso)?

Vida e obra de Duarte Pacheco

Nascido em Loulé, Duarte Pacheco (1900-1943) destacou-se desde cedo pela sua inteligência, persistência e dedicação. Formou-se em Engenharia Eletrotécnica pelo Instituto Superior Técnico (IST) e, rapidamente, tornou-se Professor Catedrático e Diretor/Presidente dessa instituição (com 26 anos!), desempenhando um papel crucial na construção do novo campus no Arco do Cego. Entrou na vida política em 1928 como Ministro da Instrução Pública, cargo no qual regulamentou o ensino e convenceu Salazar a assumir a pasta das Finanças. Contudo, seria como Ministro das Obras Públicas e Comunicações que consolidaria a sua carreira, impulsionando a modernização do país com grandes projetos de infraestruturas, como o Estádio Nacional e o Aeroporto de Lisboa.

Reconhecido pela sua abordagem metódica e capacidade de liderança, Duarte Pacheco implementou um modelo de trabalho eficiente, baseado em equipas multidisciplinares. Durante o seu mandato no governo de Salazar, promoveu a expansão de redes rodoviárias, construções escolares, hospitalares e portuárias, modernizando o país de forma abrangente. Como Presidente da Câmara de Lisboa, desenvolveu importantes projetos urbanísticos, como os bairros sociais de Alvalade e Encarnação e a preparação para a Exposição do Mundo Português de 1940. Duarte Pacheco, embora alinhado com o regime, era mais um homem de ação do que um defensor ideológico do Estado Novo. Note-se que foi “despedido” de Ministro por interesses corporativos em 1936 e convidado de volta por Salazar dois anos mais tarde. Mais tarde, com a Revolução de Abril, a Ponte Salazar mudou de nome, mas não o Viaduto com o nome do Engenheiro.

O legado de Duarte Pacheco vai além das obras materiais, refletindo uma transformação na cultura administrativa e no modelo de governance de Portugal. Introduziu uma cultura de planeamento estratégico e execução prática, profissionalizou a administração pública com equipas multidisciplinares, e promoveu o urbanismo planeado. O seu compromisso com o interesse público e a modernização do ensino, aliou-se à valorização da arquitetura nacional e à criação de espaços que melhoraram a qualidade de vida, como parques e bairros sociais. Duarte Pacheco deixou também um modelo de liderança orientado para a ação, que priorizava resultados concretos, bem como uma visão de longo prazo no desenvolvimento nacional.

A sua trajetória foi marcada por controvérsias e resistências, principalmente devido às suas expropriações de terrenos e métodos enérgicos de execução. Apesar disso, o impacto de Duarte Pacheco na modernização de Portugal é inegável, tornando-se uma figura comparada ao Marquês de Pombal em termos de transformação urbana. Faleceu tragicamente em 1943 num acidente de automóvel, deixando um vasto legado de obras e reformas estruturais.

O método de liderança de Duarte Pacheco para “fazer acontecer”

Conforme o próprio afirmou, o seu método de realizações obedecia a três princípios: coordenação, unidade e eficiência.

1. Coordenação

A coordenação no método de Duarte Pacheco era fundamental para assegurar que todos os projetos avançassem de forma integrada e harmoniosa. Ele reunia equipas multidisciplinares compostas por engenheiros, arquitetos e especialistas técnicos, assegurando que os objetivos fossem claros e os esforços bem articulados. Por exemplo, na construção do Instituto Superior Técnico, Pacheco liderou a interação entre engenheiros, arquitetos e técnicos financeiros, garantindo que o projeto cumprisse os prazos e respeitasse o orçamento, sem comprometer a qualidade. Este princípio também foi evidente na gestão das obras urbanísticas em Lisboa, onde projetos de abastecimento de água, redes rodoviárias e habitação social eram coordenados a partir do seu gabinete para criar um desenvolvimento urbano coeso, numa visão de crescimento estruturado.

2. Unidade

A unidade era um princípio central na visão de Duarte Pacheco, que buscava alinhar os diferentes setores e entidades em torno de um objetivo comum. Promoveu um sentido de uniformidade nos projetos, quer em termos de estética, quer na funcionalidade, assegurando que as infraestruturas atendessem às necessidades da população. Um exemplo emblemático é a criação do Parque Florestal de Monsanto, que não só proporcionou o lazer e a sustentabilidade ambiental, mas também se alinhou com o plano urbanístico de Lisboa, complementando outras infraestruturas como o abastecimento de água com qualidade. Esta abordagem reforçou não só a estética unificada, mas também a colaboração entre diferentes áreas de atuação.

3. Eficiência

A eficiência era o traço distintivo do método de Duarte Pacheco, refletindo-se na rapidez e qualidade da execução das suas obras. Ele adotava métodos práticos e inovadores, como a criação de comissões dedicadas a áreas específicas, que despachavam diretamente com o ministro, evitando a burocracia tradicional. Exemplos notáveis incluem a rápida modernização das estradas nacionais, como a Marginal Lisboa-Cascais, e a construção de mais de 10.000 escolas primárias, que foram fundamentais para a melhoria da educação em todo o país. Além disso, Duarte Pacheco empregava tecnologia moderna e utilizava a expropriação de terrenos como ferramenta para garantir o avanço das obras públicas, maximizando os resultados com os recursos disponíveis. Este princípio permitia que os projetos fossem concluídos dentro dos prazos e com elevados padrões de qualidade.

Os líderes contemporâneos podem aprender com Duarte Pacheco a importância de combinar visão estratégica com ação prática, priorizando a execução eficiente e os resultados concretos. O seu foco na coordenação de equipas multidisciplinares, na integração de projetos num plano coeso e na otimização de recursos demonstra como é possível alcançar grandes objetivos, mesmo em contextos desafiantes. Por fim, a sua dedicação ao planeamento detalhado e à monitorização contínua ensina que o sucesso duradouro não resulta apenas de ideias brilhantes, mas de uma implementação metódica e disciplinada.