A ligação de Portugal a Espanha (e ao continente europeu) é vital para uma economia aberta como a nossa e a aposta no transporte ferroviário de mercadorias e de passageiros deveria ser entendida há muito pelo poder político como uma prioridade estratégica, tal como será uma eficaz ligação da rede ferroviária e viária aos portos lusitanos atlânticos.
No topo da agenda da cimeira ibérica, em Faro, está a gestão da água dos rios comuns, supostamente com a limpidez que este problemático dossier implica, após décadas de jogo do empurra nos encontros ibéricos onde o tema água tem sido uma espécie de elefante na sala. Foi assim desde os governos de Cavaco Silva até António Costa, passando por Guterres ou Sócrates.
Sem prejuízo da relevância deste tema, as infraestruturas e os transportes devem ser a nova prioridade, sob pena do pais continuar a definhar perigosamente, deixando-se ficar encostado à fronteira atlântica do retângulo ibérico.
Saúda-se a decisão da construção de novas pontes em Alcoutim (Guadiana) e Nisa (rio Sever), mas a conclusão da ligação ferroviária a Espanha dos portos de Sines e Leixões ou a ligação Lisboa / Madrid é o tema crítico dos próximos anos.
Sempre que analisamos as oportunidades de crescimento económico que podem ser geradas com uma maior aposta em ligações ferroviárias e portuárias, com o respetivo suporte de plataformas logísticas, que sirvam, de facto, os interesses nacionais, é difícil não deixar de sentir um sabor amargo (bem diferente do sabor adoçicado dos caramelos ou turrons) de tanto tempo (e dinheiro) que se perdeu na lusitana pátria que se entretém com jogos florais, por exemplo, a propósito de Olivença – como se algum espanhol quisesse ser português para pagar uma brutal carga fiscal e ganhar muito menos todos os meses.
Por isso, é bom que os governantes atuais entendam que é preciso queimar etapas. Acredito que, por exemplo, o ministro das Infraestruturas e Habitação tem vontade politica e capacidade de ação para inverter o pântano luso-espanhol, sobretudo em matéria de transporte ferroviário, mas terá Miguel Pinto Luz um total e robusto apoio politico (parlamento e governo) para avançar com investimentos vitais que deveriam estar construídos há décadas?
Não é admissível que Portugal fique mais tempo sem ligações ferroviárias capazes entre Lisboa-Madrid, Leixões-Salamanca ou Algarve-Andaluzia, uma ligação ferroviária sempre esquecida e com enorme potencial de crescimento devido ao fluxo turístico, se as autoridades portuguesas perceberem a relevância da renovação total da linha ferroviária entre Lisboa e o Algarve.
luis.ferreira.lopes@newsplex.pt