A enfermagem é uma das profissões mais antigas da saúde, tendo, desde sempre, desempenhado um papel central em todos os sistemas de saúde, com um foco especial no cuidado e bem-estar das pessoas. Mas é fundamental que acompanhe as mudanças e inovações tecnológicas para proporcionar um cuidado cada vez mais eficaz e personalizado.
Este é um tema sobre o presente, sobre as transformações que estão a acontecer todos os dias nos serviços, mas também nas escolas, nos processos de formação dos profissionais e nos mecanismos de gestão das instituições.
Ninguém questiona os ganhos em saúde resultantes da introdução da tecnologia, mas é preciso compreendermos também os desafios que lhe estão associados, nomeadamente no que diz respeito aos recursos humanos e à sua articulação com a inovação.
Mas, que ninguém se iluda, o desenvolvimento tecnológico na saúde não vai dispensar os profissionais. Aliás, se há uma coisa que parece clara, é que a inovação exige profissionais cada vez mais qualificados e preparados para enfrentar os desafios do futuro. É um erro pensar que a tecnologia vai aligeirar o problema da falta de profissionais no sistema, em particular de enfermeiros.
A tecnologia, nesta matéria, pode e deve ser utilizada no sentido de redefinir uma política assente na valorização e no mérito, que retenha talento, mas não só. Devemos aproveitar o desenvolvimento tecnológico para alterar a forma como gerimos os serviços e aproveitar os novos mecanismos de gestão para reduzir o desperdício.
A tecnologia tem de estar ao serviço de uma gestão mais eficiente dos recursos da Saúde, porque só assim será possível mais meios para apostar a sério nas pessoas, na formação, nas carreiras e na melhoria das condições de trabalho.
Naturalmente, nenhum Governo pode fugir da realidade que enfrentamos: a Saúde tem de ser uma prioridade. Se é urgente resolvermos os problemas crónicos no acesso e as carências ao nível de muitas infraestruturas, é essencial ter em linha de conta que nenhuma reforma no sector será feita com profissionais desmotivados e desalinhados em relação a um objetivo comum.
A aposta na tecnologia não pode substituir o investimento nas pessoas. Se não pode ser assim em nenhuma área, muito menos no sector da Saúde. A revolução digital, que está agora em marcha acelerada por causa da inteligência artificial, não deve assustar os enfermeiros, mas despertá-los para a necessidade de não se deixarem ultrapassar pelo tempo.
O desafio que temos pela frente é o de sermos capazes de promover, junto de quem decide, aquilo a que podemos chamar tecnologia humana. Um investimento financeiro simultâneo e articulado na inovação e no capital humano, na ciência e nos profissionais que prestam serviços de saúde cada vez mais seguros e de melhor qualidade.
Prevê-se, pois, um cenário onde a tecnologia terá um papel fundamental na prática clínica. A implementação de sistemas de informação e comunicação avançados permitirá uma maior integração e partilha de informação entre os enfermeiros e os outros profissionais de saúde, melhorando a coordenação dos cuidados prestados e prevenindo e reduzindo o erro.
Além disso, a telesaúde terá um papel cada vez mais relevante, possibilitando aos enfermeiros consultas à distância, monitorização remota de doentes crónicos e a prestação de cuidados de saúde. Esta abordagem inovadora não só aumentará o acesso aos cuidados de saúde, como vai permitir uma otimização de recursos, o que será determinante para a sustentabilidade do sistema de saúde.
Neste contexto, a prescrição farmacológica e não farmacológica por enfermeiros vai generalizar-se na prática da enfermagem, permitindo uma maior autonomia e uma resposta mais rápida às necessidades dos doentes. O modelo que já tem sido implementado em diversos países, resultando em benefícios para o sistema de saúde. Esta prática vai permitir melhorar substancialmente a acessibilidade e a continuidade do cuidado, proporcionando uma abordagem mais holística e centrada no doente.
Por outro lado, será necessário apostar na formação contínua e especializada dos enfermeiros. Com os avanços científicos e tecnológicos a ocorrerem a um ritmo acelerado, é fundamental uma atualização permanente.
Assim, é importante investir em programas de formação, promover a investigação científica na área da enfermagem e incentivar a especialização em áreas de cuidados específicas. A especialização permitirá aos enfermeiros adquirir competências avançadas e especializadas, proporcionando intervenções mais objetivas e com uma maior eficácia.
No que diz respeito à gestão e liderança em enfermagem, é importante desenvolver competências de liderança nos enfermeiros, capacitando-os para assumirem papéis de liderança e gestão em equipas interdisciplinares. A capacidade de liderar e motivar equipas, gerir recursos de forma eficiente e promover a inovação e a melhoria contínua serão competências essenciais para os enfermeiros.
A enfermagem do futuro será marcada pela inovação, excelência e humanização dos cuidados de saúde. A integração de tecnologias avançadas, o desenvolvimento profissional, a valorização da formação e especialização dos enfermeiros, a promoção da saúde e prevenção da doença, e o desenvolvimento de competências de liderança serão fundamentais para garantir cuidados de qualidade, exclusivamente centrados no doente.
Bastonário da Ordem dos Enfermeiros