No período pós férias de verão, como antecipa estes quatro meses até ao final do ano, a nível económico do país e da sua atividade, em particular?
José Ramalho Fontes – Tratando-se de um período de final de ano, seria mais expectável que se esperassem confirmações de resultados dos planos desenvolvidos, mas surgiram várias indeterminações internas e externas que põem em causa o contexto em que os planos de negócio foram elaborados: um certo adensar de ameaças militares mais intensas e a sua repercussão nas eleições americanas – ou vice-versa? – e as esperadas descidas das taxas de juro que tardam em quantificar-se, mais do que concretizar-se.
Em Portugal, como noutros países mais pequenos, estes momentos de transição são excelentes oportunidades para o exercício da nossa tradicional flexibilidade não oportunística, mas estratégica, que pense no amanhã de Portugal, a médio prazo.
Anteciparia, assim, por exemplo, que se trata de uma ocasião excelente para (1) proporcionar mais formação para as equipas, (2) inspirando ambição, para fortalecer as relações com os concorrentes no modelo de coopetição, para ganhar escala relevante e (3) explorar o conceito do ecossistema em que as empresas colaboram em formatos diferentes dos puramente tradicionais, mais focados na satisfação dos clientes, surpreendendo-os.
Em Portugal, este período é, também, uma boa oportunidade para projetar maiores exportações no sistema agroalimentar e para implementar inovações significativas no setor do turismo, se os promotores e os executivos pensarem a 10 ou 20 anos, com ambição.
Se o OE 2025, que será apresentado em outubro, não passar em novembro, deve haver novas eleições? Ou que outra solução deveria ser encontrada, nesse cenário?
JRF – Este cenário, tal como o anterior, é de transição e, mais uma vez, oferece a oportunidade, aos cidadãos e às empresas, de atuarem com flexibilidade estratégica pensando duas vezes, como sugere o Adam Grant (in. Think Again ou Pensar Melhor), e atuando de forma determinada.
Questionar os nossos comportamentos e certezas, aceitar que não sabemos todas as coisas e estar dispostos a aprender! Ou seja, refletir sobre as experiências políticas anteriores, sem preconceitos ideológicos, considerar as competências das equipas governamentais e políticas, que são diferentes, trocar impressões com pessoas realizadoras e, depois, atuar junto dos influencers.
Estes cidadãos mais responsáveis serão capazes de contribuir para a construção de cenários cívicos que criarão mais valor para a sociedade e menos discussões polarizadoras ou estéreis, e identificarão soluções ótimas entre as possíveis.
O que mais apreciou neste primeiro ano do “Portugal Amanhã”?
JRF – O Portugal Amanhã surpreendeu-me com debates interessantes e habitualmente muito atuais. Envolvendo personalidades com pontos de vista diferentes, mas qualificados, que acrescentam valor aos temas em debate.
O desafio para pensar a 2043 é um exercício inovador e muito positivo no mundo dos mcs, que obrigou as pessoas a uma reflexão ordenada que, na maioria das vezes, acrescentou valor ao tema e abriu perspetivas de desenvolvimento positivas.