No período pós férias de verão, como antecipa estes quatro meses até ao final do ano, a nível económico do país e da sua atividade, em particular?
Ema Paulino – Acompanho com otimismo a informação que nos chega do Banco de Portugal, que aponta para um crescimento económico para Portugal superior ao previsto. Poderá, no entanto, haver uma relação entre a estabilidade política e a gestão das contas públicas.
No setor da saúde, não se alteram a curto prazo importantes fatores que condicionam a sua sustentabilidade: o progressivo envelhecimento da população, com maior carga de doença; a crescente pressão sobre os cuidados de saúde, recordando ainda que continuamos a lidar com o legado da pandemia de COVID-19.
Neste cenário, é absolutamente necessário que os decisores políticos tenham a capacidade de estabelecer as sinergias certas entre os diferentes agentes da saúde para assegurar uma melhor gestão dos recursos e uma resposta mais eficaz para a população. É esta a tendência que se observa nos países mais desenvolvidos, sendo disso exemplo a declaração da OCDE – Building Better Policies for More Resiliente Health Systems, para o desenho de políticas que tornem os sistemas de saúde mais resilientes.
Portugal tem uma rede de farmácias assente numa distribuição geográfica capilar com elevada qualificação das suas equipas. Há um vasto campo de trabalho onde as farmácias podem contribuir para promover a proximidade e a acessibilidade a cuidados de saúde junto das comunidades, em particular em zonas fora dos centros urbanos.
Nos próximos meses, em Portugal, à semelhança do que acontecerá no resto da Europa, aos desafios dos recursos e da pressão sobre os cuidados de saúde, acresce a necessidade de uma resposta adequada ao período de inverno, que se carateriza pela maior circulação de vírus respiratórios.
No processo de vacinação, mantém-se o desafio, a nível global, da hesitação vacinal, em particular na vacinação contra a COVID-19. Será fundamental um esforço conjunto de sensibilização junto da população mais vulnerável para a segurança e a eficácia das vacinas que podem evitar complicações e casos de doença grave.
As farmácias foram novamente chamadas a participar na Campanha de Vacinação Sazonal, pelo segundo ano consecutivo, reforçando a capacidade de resposta do SNS para se alcançarem as metas de cobertura vacinal da população elegível contra a gripe e a COVID-19, garantindo maior acessibilidade às pessoas e contribuindo para o alívio da pressão nos cuidados de saúde primários.
Com esta medida, o Estado, já em 2023/2024, assegurou um aumento em 400% do número de locais disponíveis para vacinação e diminuiu para metade a distância média de cada português ao seu local de vacinação. Segundo um Estudo de Impacto conduzido pelo Centro de Estudos e Avaliação em Saúde (CEFAR), a inclusão das farmácias comunitárias no processo de vacinação reduziu barreiras no acesso à vacinação, melhorou a satisfação das pessoas com o processo, libertou recursos no SNS, gerou poupanças económicas para o utente e impactou positivamente a cobertura vacinal da população.
Acreditamos que o investimento em saúde passe pelas sinergias que possam ser criadas entre o setor público, privado e social, com ganhos comprovados para a economia do país, nomeadamente através do acompanhamento e de uma maior intervenção do farmacêutico na jornada de saúde das pessoas em estreita colaboração com os diferentes profissionais de saúde.
Se o OE 2025, que será apresentado em outubro, não passar em novembro, deve haver novas eleições? Ou que outra solução deveria ser encontrada, nesse cenário?
EP – Fiz referência a sistemas de saúde mais resilientes e também a sociedade precisa de ser mais resiliente perante cenários de maior instabilidade política, o que poderá ser cada mais frequente em Portugal e no mundo.
O que mais apreciou neste primeiro ano do “Portugal Amanhã”?
EP – O “Portugal Amanhã” criou um espaço de reflexão mais aprofundado sobre temas de interesse para a sociedade, temas que impactam o futuro do país e que, por norma, não estão na agenda da generalidade dos meios, e aos quais a publicação dedica tempo de análise e de debate. Espero que possamos continuar a contar com o seu contributo para uma sociedade plural e informada.