A floresta deveria ser um desígnio nacional, se houvesse uma estratégia inteligente de gestão e ordenamento do território, aliada a coragem para defender as espécies autóctones, em convivência justa com outros interesses agro-industriais que se instalaram no país desde os anos 80 do século passado.
Uma medida simples para cuidar da floresta e prevenir incêndios é fomentar a produção de pallets, o que permite obter maior eficiência energética (a custo mais acessível que o gás e electricidade), limpar as matas nacionais, gerar maior receita para os proprietários rurais e fomentar diversidade das espécies de árvores. Todas as medidas há muito estudadas devem ser executadas com urgência para estimular uma economia rural mais pujante e saudável.
O verão é um momento propício à reflexão e, por isso, promovemos um debate sobre soluções e problemas estruturais da floresta portuguesa e a eficácia das políticas de prevenção e combate aos fogos rurais, entre o brigadeiro-general Duarte da Costa (presidente da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil) e o professor João Joanaz de Melo, da Universidade Nova de Lisboa e reputado especialista em ambiente e ordenamento do território. O debate foi gravado antes dos incêndios na Madeira e está disponível em Amanha.pt e na Euronews (canal youtube em português).
Destaco algumas afirmações de Duarte da Costa: “Não irá suceder uma tragédia (como a de Pedrogão Grande). Temos uma capacidade muito mais elevada”, mas alerta: “a solução dos incêndios, em Portugal, não está em grandes capacidades de combate. Isso é uma falácia que não pode continuar. A solução está em tornar a floresta rentável, ter um verdadeiro ordenamento do território.”
João Joanaz de Melo acrescenta: “temos um espaço florestal que não é uma verdadeira floresta. A maior parte são matas de produção ou terrenos abandonados. (…) temos cerca de 50% do nosso território em que não sabemos quem é o dono. Ou seja, sabemos o nome que está lá na conservatória, mas é um senhor que faleceu há 40 anos e que deixou 200 herdeiros que nem sabemos quem eles são, nem nenhum deles sabe onde é que está o terreno. Isto é ingerível. (…) Enquanto não conseguirmos atacar este lado do problema, nunca vamos estar de facto preparados para os incêndios”. Ficam estes alertas com o apelo ao poder político porque isto já não vai lá com discursos e mais estudos.
Nesta edição, sugiro ainda as opiniões de José Ramalho Fontes, João Palma-Ferreira (2a parte) e Jaime Quesado. E conheça as histórias do enólogo Carlos Lucas (que reinventou o Dão) e um projeto turístico diferente em Viseu. Se for o caso, boas férias e bons regressos.
luis.ferreira.lopes@newsplex.pt